As aulas começam entre 15 e 21 de setembro. Marta Ribeiro, do blogue Quimaterapia, ainda tem uns dias para preparar a grande mudança, de escola e de cidade. Mas é como cair e esfolar os joelhos (ou cortar um dedo): faz parte e ajuda a crescer.
Quando há uns meses atrás aceitei o desafio de escrever sobre este tema, estava longe de saber que por esta altura as aulas ainda não tinham começado. Estava também a milhas de distância de imaginar que iria haver uma mudança radical, a passagem de uma pequena escola do interior, com um total de 40 alunos (que incluem todo o primeiro ciclo) para a grande escola, na capital, com mais de 60 alunos só no terceiro ano (que incluem variadas nacionalidades, com predominância para as asiáticas).
Quando a mudança se tornou inevitável fui introduzindo o tema da nova escola com algum cuidado, mas obtinha sempre a mesma resposta. "Não vou ter saudades, não tenho amigos", dizia ele, apesar de ser um dos mais populares na sua pequena escola. Agora que estamos a apenas uma semana do início das aulas já mostra alguma ansiedade. "Não sou um prego. Tenho sentimentos. É claro que tenho saudades dos meus amigos, da minha professora e das auxiliares". Parece-me uma frase copiada de algum desenho animado, daqueles que se podem ver até à exaustão nas férias e com muita moderação durante as aulas.
Enfim, não posso expor aqui como foi o regresso às aulas e a entrada na nova escola, porque ainda não aconteceram. O que é certo é que os dias preguiçosos de Verão, sem hora para deitar nem despertador para acordar, estão a chegar ao fim e para não haver dúvidas até o tempo enegreceu nos últimos dias. Para trás vão ficar também os trabalhos no campo, como as vindimas.
Este ano o meu rapazote de oito anos recebeu o seu primeiro salário nestas lides. Incentivado pela avó, cortou uvas, despejou baldes e, sempre que o deixavam, saltava para o tractor com o avô. Dar uma tesoura para as mãos de um miúdo desta idade é uma grande responsabilidade e o inevitável aconteceu. Cortou um dedo. Depois do choque de ver o sangue a cair, o que realmente o aborreceu foi não poder continuar a ´trabalhar´. Meia hora depois já estava de volta ao activo e segredava-me ao ouvido "este é o melhor dia de vindima de sempre".
Lembrei-me imediatamente deste episódio quando li a entrevista, ao ionline, de Carlos Neto, investigador da Faculdade de Motricidade Humana, em que alertava para os perigos de dizer sempre não às crianças por medo de que se magoem.
Magoar faz parte do crescimento. Mudar de escola faz parte do crescimento. Ficar de coração apertado faz parte da maternidade.
A autora e o blogue
Entre Santarém e a serra da Lousã, Marta Ribeiro não tem muita rede. É por isso que, apesar de manter o blogue Quimaterapia desde 2007, não é uma blogger, digamos, muito assídua. O que lhe ocupa as horas é a horta por regar. É aquele pedaço de madeira ou o tecido velho que encontrou. É ver as minhocas com o filho Gaspar, ir com ele e com o marido Joaquim tomar o primeiro banho de mar ou de rio. Mãe, jornalista, artesã, fotógrafa curiosa, Marta vive a mais de 65 km de Lisboa e adora. (Ah, e Quimaterapia não tem nada a ver com doenças. São apenas as terapias do Quim e da Marta).
Textos anteriores no Lifecooler
Pirilampo, vaga-lume ou luze-cu
O lobo bom, o lobo mau e o lobo chata
Por Marta Ribeiro 2015-09-16