Memórias de S. João

Viagem sentimental ao São João do Porto através das recordações da Susana Ribeiro, do blogue Viaje Comigo. Com cascatas, cheiro a sardinha e a musgo fresco.

“Eu sou do tempo”... é daquelas expressões que nos põe mais velhos uns 10 anos. Por isso mesmo, vou usar outra forma de começar este texto: lembro-me de ser a coisa mais normal do mundo ir para a rua com o santo de barro, em miniatura, na mão, pedir uma “esmolinha” para o Santo António e para o São João. Porquê? Porque toda a gente o fazia!

Já o desgraçado do S. Pedro, a quem atribuímos as mudanças climáticas, nunca fez parte do meu peditório...

Então, como estava a dizer, eu e as minhas amigas - junto à casa da minha avó, depois de fazermos os deveres da escola - fazíamos uma cascata modesta, com santos, ovelhas e outros animais, que ia cativando quem por ali passava.
Íamos buscar o fresco musgo e – lembro-me bem – que pena eu tinha de não poder usar o tanque, de lavar a roupa, para ter água a correr e fingir um riacho, ao lado do qual os santos estavam intocáveis para recebermos os tostões.

E quando digo intocáveis é porque as cabeças dos santos de vez em quando saltavam... E lá tinha eu o meu Santo António, a brotar cola em excesso do pescoço...
Já não me lembro quanto conseguíamos acumular... mas, no final, dividíamos e gastávamos tudo (mas mesmo tudo!) em gomas e rebuçados.

Hoje em dia, ainda alguém faz o pedido de “esmolinha” para os santos? E, aliás, quem liga mesmo às cascatas?

Quando crescemos, o S. João passa a ser uma noitada com os amigos. Esquecemos os santos, e as gomas que comemos à custa deles, e o musgo fresco que íamos buscar. O programa passa por andar a pé a noite toda, percorrer os bailaricos e acabar, já com o dia a nascer, numa das praias do Porto. Pelo caminho: manjericos, sardinhas (comia muito poucas, agora adoro!) e pimentos assados, martelinhos de S. João e sempre a fugir de todos os que usam o alho porro (com esta tradição acabava eu! Alho porro, bah!).

“Ainda sou do tempo” em que se saltava às fogueiras, mas não tenho memória do fogo de artifício ser tão elaborado como é agora. É um verdadeiro festival de pirotecnia que une as duas cidades: Porto e Gaia.

Também não me recordo de, em miúda, haver tanto a tradição dos balões. Deve ter sido pela falta de prática que atualmente sou uma autêntica nulidade a lançá-los. Não há nenhum que não arda poucos minutos depois de ter levantado voo...

Muito mudou a festa de S. João, mas não há nada mais encantador do que ver os estrangeiros, que vêm visitar a cidade do Porto, felizes da vida, nesta festa louca onde se usa um martelo de plástico para bater nas cabeças de quem por nós passa!

E mudou tanto que o programa de festas é agora estendido a um mês e os concertos gratuitos na Baixa passaram de uma para três noites. Quer ir ver? Aponte da agenda:

Dia 23 de junho
Avenida dos Aliados – 01h00 – Xutos & Pontapés

Dia 24 de junho
Avenida dos Aliados – 22h00 – Banda Sinfónica Portuguesa

Dia 25 de junho
Avenida dos Aliados – 22h00 – GNR & Banda Sinfónica da GNR

A autora e o blogue
Jornalista desde 1998, Susana Ribeiro já colaborou com vários órgãos de informação. Atualmente trabalha como freelancer em revistas, sites e num programa de televisão. Em 2013 lançou o blogue Viaje Comigo com dicas de viagem em Portugal e no estrangeiro. Em 2015, o site foi eleito, pelo público, como Melhor Blogue de Viagens Profissional dos BTL Blogger Travel Awards. .
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Por Susana Ribeiro | Viaje comigo 2016-06-22

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