A algarvia Margarida, do blogue Pano Pra Mangas, não esconde as saudades dos seus dias londrinos. Mas é para falar de memórias e sabores? Então não há como a infância e é de lá que Margarida nos traz o odor sumarento da laranja do Algarve.
Produtos DOP? Produtos DOC? E ainda produtos IGP? É quase necessário um curso para decifrar o que cada uma destas siglas significa e um outro para encaixar em cada uma delas as dezenas de produtos que tanto podem ser uma coisa, como outra ou ainda outra... O que significa que me meti numa verdadeira alhada quando aceitei escrever sobre os primeiros.
Numa abordagem inicial o que me veio à cabeça foi o vinho e o azeite, no entanto quando comecei a procurar informação sobre os mesmos vi que tinha ali "pano p´pra mangas", literalmente, pois estes dois ícones da nossa cultura e gastronomia têm mais do que se lhe diga.
Pensei, então, tornar tudo mais simples e recorri, como faço normalmente ao que me traz um doce sabor à memória. Surgiram três hipóteses: a pêra rocha (que me fazia esboçar um sorriso sempre que as via expostas na secção da fruta do Sainsburys perto de onde vivia em Londres - a tal saudade de emigrante que não se explica e apenas se sente), as ameixas d´Elvas (que todos os anos me levam de Faro a Elvas debaixo do tórrido calor de final de Julho para as "transformar" assim que são colhidas pela madrugada - e sobre isto teria tanto para contar...) ou as laranjas do Algarve (que afinal não são DOP, segundo algumas informações que encontrei online, mas sim IGP e que para uma leiga como eu é quase a mesma coisa).
DOP, ou não, fiquei-me pelas laranjas. E a decisão foi tomada apenas hoje, no momento em que abri a porta de casa e me deparei com a laranjeira ao lado da nora carregada de laranjas redondinhas, perfeitas, sem brilho artificial, com um odor delicioso e, de certeza, doces e sumarentas como só estas sabem ser. Esta é a árvore que resta do que um dia já foi um pomar de citrinos que abastecia as mais exigentes bancas de fruta do Mercado da Ribeira, muito antes até da existência destas siglas complicadas. Por muitos anos que viva nunca irei provar laranjas tão doces como as que saíam daqui. E quem diz laranjas, diz clementinas, tangeras ou tangerinas - sem dúvida, as melhores do mundo!
As laranjas do Algarve, além de doces e sumarentas (os melhores lanches da minha infância eram feitos de pão caseiro torrado e copos de sumo de laranja acabadas de colher e espremer!!!), ricas em vitamina C e o melhor anti-gripe que existe, são o ponto de partida para mil e uma receitas simples e deliciosas como a que tenho hoje no prato:
Quadrados de laranja com ricotta e mel*
Duas laranjas grandes (do Algarve!)
400 gr de açúcar
40 gr de amido de milho
60gr de manteiga
8 ovos
Aquecer o forno a 180 C.
Raspa-se a casca das duas laranjas e envolve-se com o açúcar. De seguida, junta-se o sumo das duas laranjas, os ovos, o amido de milho e a manteiga.
Bate-se muito bem.
Deita-se o preparado num tabuleiro previamente untado e enfarinhado (ou forrado com papel vegetal de forno) e leva-se ao forno durante 30 a 35 minutos.
Depois de cozido, deixa-se arrefecer e corta-se em quadrados. Serve-se com um pouco de queijo ricotta e mel. Eu, como gosto, polvilhei com um pouco de canela e amêndoa com pele picada grosseiramente.
*mel da Serra de Monchique, este sim, um verdadeiro DOP
E para quem não sabe:
DOP: Denominação de Origem Protegida
DOC: Denominação de Origem Controlada
IGP: Indicação Geográfica Protegida
A autora e o blogue
Inseparável da máquina fotográfica e do bloco de apontamentos, quando não anda em trânsito Margarida Vargues vive em Faro. Professora de Inglês de formação, e life coach de coração, criou o blogue Pano p’ra Mangas em 2005 para mostrar os seus trabalhos manuais e outras ocupações das horas livres. Em 2012 foi para Londres onde ficou um ano e meio. Regressou ao Algarve onde vive entre a mini-horta, a máquina de costura e os mil e um projetos a que vai emprestando as suas artes.
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