Um triângulo amoroso entre o rio, a ria e o mar

Deixei o coração em Tavira quase podia ser o título deste texto da nossa convidada desta semana, do blogue Pano Pra Mangas. Não foi esta cidade algarvia à beira do Gilão, repleta de igrejas e ruas estreitas, que viu nascer Margarida mas ela gostaria que tivesse sido.

Quando me falam em Tavira há várias coisas que me vêm imediatamente à cabeça: Álvaro de Campos – feito ali nascer por Fernando Pessoa, “mil e uma” igrejas e igrejinhas, praia e o folhado mais delicioso que conheço, com um nome tão singelo como Folhado de Tavira (ou na falta dele um belo de um pastel de feijão com amêndoa)!

Esta é a cidade algarvia que eu gostava de ter escolhido para nascer. Não é que tenha laços afectivos com ela (a não ser uma ruela que exibe o mesmo nome da minha avó materna), mas tem qualquer coisa que não consigo explicar. Sou fascinada pela arquitectura (os telhados de tesoura ou quatro águas e as portas de reixa, cada vez mais raras, são marcos desta cidade), pelo rio que a atravessa e pela ponte romana que a une. A luz é maravilhosa e mesmo nos dias mais escuros tem um brilho tão, mas tão especial... De um lado do rio o jardim do coreto, do outro as fachadas cujas cores variam entre o branco e o muito colorido.

No Verão enche-se de gente com sotaques diferentes que, de imediato, denunciam a origem dos visitantes. Estão ali, essencialmente pelas praias que ficam para além da Ria Formosa: Ilha de Tavira, praia da Terra Estreita ou praia do Barril – praias de areia fina e águas mansas e quentes por excelência e com uma vida que vai para além da bola de Berlim. Quando Setembro chega, o burburinho acalma e Tavira fica entregue aos locais e aos turistas de Inverno que chegam do Norte da Europa em busca do maior número de horas de sol que aqui se faz sentir, e que enchem as esplanadas da Baixa a tomar a sua meia de leite ou galão, após um repasto que pode ir de uma bela feijoada de chocos a uma açorda de galinha.

Tavira visita-se a pé! Quase porta sim–porta sim encontramos uma igreja, num total de vinte e uma que chegam até aos dias de hoje. As ruas são estreitas e se junto ao rio a cidade é plana, não são necessários muitos metros para que se eleve e as ruas se tornem labirínticas. Cada vez mais difícieis de encontrar são as tão características portas de reixa que serviam de entrada ao casario, mas mesmo sem elas é impossível ficar indiferente às cantarias, às janelas e aos pequenos recantos escondidos, muitas vezes emoldurados por vistosas buganvílias.

E quanto ao que se diz por aí que “em Tavira se come na gaveta”, esqueçam! As suas gentes são afáveis e acolhedoras e se entrarmos em suas casas temos à nossa espera algumas das melhores iguarias que se pode provar (pelo menos nas casas que conheço...).

Uma escapadinha de fim-de-semana? Tavira, sem dúvida é um destino a considerar. Ahhh e para quem for fã da nova moda dos tuk-tuks por aqui também já há, pelo menos um!

 

A autora e o blogue
Inseparável da máquina fotográfica e do bloco de apontamentos, quando não anda em trânsito Margarida Vargues vive em Faro. Professora de Inglês de formação, e life coach de coração, criou o blogue Pano p’ra Mangas em 2005 para mostrar os seus trabalhos manuais e outras ocupações das horas livres. Em 2012 foi para Londres onde ficou um ano e meio. Regressou ao Algarve onde vive entre a mini-horta, a máquina de costura e os mil e um projetos a que vai emprestando as suas artes.
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Textos anteriores no Lifecooler:

À sombra na relva fresca (Alameda João de Deus)

Ilha do Farol - um paraíso entre o mar e a terra

Margarida Vargues 2014-11-19

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