Os comboios já não circulam na Linha do Leste, encerrada no início de 2012, que fazia a ligação entre Abrantes e Elvas, passando por Castelo de Vide, Marvão e Portalegre. Inaugurada em agosto de 2013, a Train Spot Guesthouse mora na antiga estação ferroviária de Marvão-Beirã, bem no coração do Alto Alentejo. Ao ambiente histórico do edifício da estação, classificado como património de interesse, esta original unidade alia a cultura alentejana e as atividades de aventura na envolvente rural. Está situada a poucos minutos da vila de Marvão, das ruínas romanas da Ammaia, das piscinas naturais do concelho e de outros pontos de interesse na região.
Localização: CampoÀ espera do comboio
O encerramento provisório da circulação ferroviária não impediu que novas vivências surgissem na Beirã, perto de Marvão. Reserve o bilhete e parta à descoberta de um pedaço da memória num dos edifícios da antiga estação.
Por ali já não passa nenhuma carruagem. E também não temos de ir carimbar o passaporte para seguir em direção a Espanha ou aguardar longas horas na zona do restaurante à espera da partida do comboio.
O último apito calou-se em 2012, mas, na Beirã, a curta distância da mais alta vila do Alentejo (860 m), Marvão, não se deixou que um dos edifícios mais emblemáticos da terra ficasse esquecido. Em agosto de 2013, nasceu o Train Spot Guest House, um projeto turístico que aproveitou a zona do restaurante para ali criar um espaço singular com quartos individuais e coletivos com capacidade para albergar até 24 pessoas.
A recuperação manteve a traça original e inclui uma sala de estar com lareira, sofás e mesas de refeições. Os hóspedes têm acesso à cozinha onde podem preparar petiscos quem sabe com alguns produtos nacionais disponíveis na mercearia improvisada, situada junto à receção, e que inclui conservas, frascos como cogumelos, pimentos ou outras iguarias.
Para além dos quartos duplos com wc privativo ou partilhado, haverá ainda, a partir da primavera, alojamento em apartamento para quatro pessoas. Todos os quartos têm aquecimento para os dias frios e ventoinha para refrescar das altas temperaturas alentejanas, no verão.
Ponto de encontro
A sala de estar e de refeições situada exatamente onde funcionava o restaurante é um dos espaços mais emblemáticos deste projeto de turismo rural. Entre sofás e mesas estão objetos singulares, mobiliário com design interessante, tabuletas antigas, formas de sapatos em madeira, livros de gastronomia alentejana e roteiros da região. A um canto está uma mesa com jogos e até tem uma bicicleta suspensa no teto.
Mesmo ao lado encontra a cozinha onde pode preparar as refeições. E o alpendre virado para a linha de comboio tem mesas e cadeiras onde se pode deixar estar, sem pressas a degustar o pequeno-almoço. Como por ali o lema é mesmo descanso, fica já o aviso: não há televisão, nem nos quartos, nem nas zonas de convívio.
Para além do alojamento, organizam-se outros eventos como tertúlias com contrabandistas da raia, ou não estivéssemos perto de aldeias de fronteira onde ainda pode falar com a população que, em tempos de míngua, comercializava todo o tipo de produtos.
Não faltam também propostas de atividades para conhecer as imediações. Mesmo ao pé está a serra de São Mamede, a vila de Marvão e Castelo de Vide e a curta distância menires e antas, até porque estamos numa das zonas do país com mais vestígios de outras eras.
Há propostas «a todo o vapor» e em «marcha lenta», como informa a página desta guest house. Tem a possibilidade de fazer escalada no parque natural, dar um passeio de cavalo, de btt ou percorrer os trilhos do contrabando, a pé. A pedido também se pode aprender a fazer pão alentejano em forno a lenha ou provar petiscos de Marvão com direito a música tradicional.
Património e memória
A estação, que ainda não sofreu intervenção, é um edifício classificado como imóvel de interesse público pela Câmara Municipal de Marvão. Na fachada virada para a linha de comboio pode apreciar os painéis de azulejos da autoria de Jorge Colaço, produzidos pela Cerâmica Lusitana, representando imagens de monumentos portugueses, uma criação do mesmo artista que fez os painéis das estações de Castelo de Vide e de S. Bento, no Porto.
Durante 133 anos a estação ferroviária, que abriu provisoriamente em 1879, estabelecia a ligação de Lisboa a Madrid. Ponto fronteiriço, funcionou como alfândega, posto de guarda-fiscal e até tinha um espaço para a Polícia Internacional e de Defesa do Estado, PIDE.
O edifício onde agora se situa o Trainspot foi construído já no século XX, respeitando as soluções arquitectónicas da chamada «Casa Portuguesa» do arquiteto Raul Lino. Dada a localização fronteiriça, esta estação, situada num cantinho da Europa, terá sido também usada durante a II Grande Guerra para passagem de espiões.
Preservada a memória e estórias do lugar, a linha continua ali, disponível, à sua espera…
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