Mini férias de Páscoa no Porto

Um roteiro completo e informado para três dias na Invicta. Vera Dantas, do blogue Porto Envolto, desenha os percursos e apresenta as sugestões de uma cidade tão antiga e tradicional como cosmopolita e vibrante. O Porto é irresistível e sabe disso.

Se ainda não conhece o Porto, umas mini-férias são o tempo ideal para um primeiro encontro com a cidade. Vou apresentá-lo às melhores zonas para descobrir a Invicta em três dias – o suficiente para ficar com vontade de voltar! Todas os lugares sugeridos são alcançáveis em transportes públicos ou a pé. Sem preocupações sobre onde deixar o carro ou ter de voltar ao ponto de partida, pode usufruir da cidade ao seu ritmo e com total liberdade. Mas conte com muitas paragens pelas ruas da cidade, ou não houvesse a cada esquina um magnetismo irrecusável para contemplar e fotografar cenários irrepetíveis.

Mesmo com os dois feriados da Páscoa, o Porto tem muitas portas abertas para se deixar descobrir e as sugestões que lhe deixo foram pensadas especificamente para estes dias.

Dia 1: Uma visão geral da cidade e da sua envolvente
São Bento
No Porto, um bom ponto de partida para descobrir a Baixa é a Estação de São Bento, uma das estações ferroviárias mais bonitas do mundo. Este ano comemora o seu 100º aniversário e, além da belíssima fachada de influência francesa e da sua cobertura de vidro e ferro fundido, São Bento surpreende pelo átrio revestido a 20 mil azulejos, um dos maiores monumentos da azulejaria portuguesa. Nestes painéis de azulejos, o pintor e ceramista Jorge Colaço retratou não só momentos marcantes da História de Portugal, como também da evolução dos transportes e ainda as regiões do país.
Rua das Flores
Logo em frente à estação começa uma das artérias mais icónicas do novo Porto: a Rua das Flores. Recentemente renovada, esta rua, além de lindíssima, é morada de sabores tão deliciosos como as Bolas da Praia, a Chocolataria Equador e a Chocolataria das Flores – aqui, além de provar chocolates e bolos artesanais, pode sentar-se a saborear um voluptuoso chocolate quente. Há até uma mercearia, chamada Das Flores, de cara muito fresca e bem recheada com produtos regionais irresistíveis.
No n.º 28 encontrará a Livraria Chaminé da Mota, um espaço único com uma imensidão de antiguidades de alfarrabista.
Mas esta é também uma rua de museus. Do lado esquerdo, encontra o Museu das Marionetas do Porto (11h/13h e 14/18h) – a não perder, sobretudo se viaja com crianças – e do direito o Museu da Misericórdia do Porto (10-17:30h), com 500 anos de história que se funde com o Porto. Ao lado, a Igreja da Misericórdia, que no século XVIII recebeu uma importante intervenção do artista Nicolau Nasoni.
Ribeira
Desça mais um pouco e entre na Rua da Alfândega para contemplar a Casa do Infante, antiga Alfândega e Casa da Moeda onde terá nascido o Infante D. Henrique que hoje dispõe de um centro interpretativo dedicado aos Descobrimentos (fechada aos feriados, infelizmente). Logo abaixo chegará à magnífica ribeira do Porto, com o pitoresco Muro dos Bacalhoeiros a sustentar o casario colorido. Junto aos vestígios da antiga muralha há uma panóplia de restaurantes e bares que convidam à contemplação da paisagem, arrebatada pela visão da Ponte Luís I.
Gaia
As centenárias caves do Vinho do Porto ficam em Gaia, na outra margem. A melhor forma de lá chegar é atravessando o tabuleiro inferior da Ponte Luís I. Na ribeira de Gaia os espaços ajardinados acompanham o ondular dos barcos rabelo, na água, e a sucessão de caves de Vinho do Porto, em terra, todas abertas ao público.
Por esta altura já terá reparado nos barcos turísticos que fazem os cruzeiros das Seis Pontes que ligam Porto e Gaia. Estas pequenas viagens permitem admirar a grandiosidade das várias pontes, inclusivé da já desactivada Ponte Maria Pia, da autoria de Gustave Eiffel, que a classificou como uma obra construída “no limite das possibilidades clássicas da construção metálica”.
Em alternativa, tome o teleférico que passa por cima dos telhados centenários das caves. A viagem, embora curta, permite ter a sensação de voar sobre a cidade. Levá-lo-á ao Jardim do Morro, de onde tem uma vista panorâmica de Gaia e do Porto e do rio serpenteando entre as duas margens até à Ponte da Arrábida, a ocidente. O Mosteiro da Serra do Pilar, do outro lado da linha do metro, pode também ser visitado. Além do belíssimo claustro circular, tem um zimbório aberto para contemplar a avassaladora paisagem.
Agora volte ao Porto! A melhor maneira de o fazer é mesmo atravessar a pé o tabuleiro superior da Ponte Luis I. Olhe para leste e verá a Ponte Maria Pia e a Ponte do Infante, além da escarpa dos Guindais, por onde sobre o Funicular dos Guindais.
Percurso sem sair do Porto:
Se não quiser atravessar para Gaia, suba o Funicular dos Guindais (8-20h), junto à Ponte Luís I, que o levará até à Batalha e de onde poderá passear junto à Muralha Fernandina, do século XIV.
Ao descer, do lado esquerdo, vai encontrar a Sé do Porto. Além da visita ao monumento em si, de estrutura romano-gótica com o seu original aspecto de igreja-fortaleza e claustro gótico da época de D. João I, a partir do Terreiro da Sé tem uma das visões mais encantadoras do Porto antigo.
Descendo, regressará à Estação de São Bento. Logo acima, abre-se a
Avenida dos Aliados.
Foi inaugurada em 1916, com traça do inglês Barry Parker e é a avenida mais central da cidade, com edifícios ao estilo beaux-arts, num ambiente cosmopolita. No início da avenida situa-se a Praça da Liberdade, com a estátua equestre de D. Pedro IV. Acarinhado pelos portuenses como símbolo da liberdade, o rei doou à cidade o seu coração, que se encontra depositado na Igreja da Lapa. O cimo da avenida é dominado pelo edifício dos Paços do Concelho, em frente do qual a estátua de Almeida Garrett sublinha a ligação umbilical do escritor à cidade.

Dia 2: Sábado, Comprar doces na Baixa, descobrir um Palácio de Ouro e viajar de elétrico até à Foz
Depois de um dia de exploração da cidade, aproveite o sábado de manhã para recuperar forças com as muitas delícias que irá encontrar nas charmosas e antigas moradas de comércio da zona de Santa Catarina. O ideal é sair na estação de metro do Bolhão para este périplo. O dia começa cedo no Mercado do Bolhão, com cores frescas e aromas soltos logo pela manhã. Em frente, mesmo que já tenha tomado o pequeno-almoço, não deixe de entrar na Confeitaria do Bolhão, onde as delícias doces se conjugam com os belíssimos baixos relevos de Arte Nova. Logo ao lado, a mais icónica mercearia tradicional do Porto: a Pérola do Bolhão, com uma fachada Arte Nova conjugada com azulejos ilustrativos da rota das especiarias, mantém o charme de outrora e continua nas mãos dos descendentes do seu fundador. Explore ainda o coração do comércio do Porto na vizinha Rua de Santa Catarina e continue o passeio por onde o apetite ou a tentação o guiar, pois não faltam montras repletas das cores das amêndoas e ovos da Páscoa.
Depois de um périplo pelas ruas do melhor comércio da cidade, porque não conhecer o grande edifício neoclássico construído pela Associação Comercial do Porto? Na Rua Ferreira Borges, o Palácio da Bolsa tem 13 espaços visitáveis únicos, mas o mais impressionante é o Salão Árabe de estilização mourisca e profusamente revestido a folha de ouro, numa demonstração sumptuosa do poderio económico e político da classe burguesa do século XIX. Mas abaixo encontrará o mais proeminente templo em estilo gótico do Porto, a Igreja Monumento de São Francisco de Assis, com um exuberante trabalho Barroco em talha dourada.
Mesmo em frente, há uma paragem da Linha 1 do elétrico histórico. Uma viagem nesta Linha da Marginal é uma das mais aprazíveis que pode fazer para desfrutar da marginal do rio Douro.

 

Dia 3 – Domingo de Páscoa
Palácio de Cristal e Clérigos
Comece o dia com um passeio pelos Jardins Românticos do Palácio de Cristal (8-19H). Do Jardim Émille David, à entrada, passando pela Avenida das Tílias, até aos lagos e miradouros em todos os percursos deste espaço verde, aproveite ainda estarmos em época de camélias para se deleitar com as cores da flor que o Porto fez sua.
Siga para os Clérigos a pé ou num dos vários autocarros que param à frente do jardim.
Vá até à Praça dos Leões, um espaço aberto de onde poderá apreciar a Igreja dos Carmelitas. Mesmo ao virar da esquina fica a histórica Livraria Lello & Irmão, no seu famoso e deslumbrante estilo neogótico. Atravesse o Passeio dos Clérigos (uma zona comercial apetecível que também serve de passagem) e se puder suba ao seu Jardim das Oliveiras, mesmo por cima, com amplos relvados ponteados por oliveiras.
Agora terá à sua frente a Torre dos Clérigos, um dos símbolos do Porto. Não deverá perder a oportunidade de subir até ao zimbório e contemplar a cidade a 76 metros de altitude. Para se recompor do esforço, desça até à Igreja dos Clérigos e assista ao concerto de órgão gratuito, às 12H00.

Cá fora aproveite para almoçar num dos muitos restaurantes da vizinhança. A partir dos Clérigos, caminhe para ocidente em direcção ao Largo Amor de Perdição, assim chamado em homenagem a Camilo Castelo Branco, que esteve preso no grande edifício da ex-Cadeia e Tribunal da Relação que hoje é o Centro Português de Fotografia. Mas por estes dias o palco cabe ao Mercado da Páscoa. Domingo, 27 é último dia deste evento (das 11 às 23h) que inclui provas, degustações, showcooking e, claro, os melhores produtos nacionais. Já que tem de se despedir do Porto, faço-o com uma bagagem recheada de sensações. As emoções, essas, sei que o farão regressar em breve.

A autora e o blogue
Vera Dantas é jornalista e autora do blogue portoenvolto.com. Nascida em Viana do Castelo, encontrou no Porto a beleza citadina e o ritmo de vida certos para criar uma plataforma online que elogia a região única que é o Norte de Portugal. O portoenvolto.com é um espelho da sua visão da vida repleta de música, arte, fotografia, cultura, sabor e... viagens. Trabalhou em jornalismo de imprensa cultural e internacional e foi co-realizadora do programa de rádio “Só Jazz”. Mestre em Relações Internacionais, tem a sua obra "A Dimensão Cultural do Projecto Europeu – da Europa das Culturas aos Pilares de uma Política Cultural Europeia" publicada pelo Instituto Diplomático. Desenvolveu investigação na área das indústrias criativas e da cultura e foi correspondente do Culture Creative News Portal (Berlim).
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Por Vera Dantas | Porto Envolto 2016-03-23

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