A nossa blogger desta semana fala-nos de um paraíso em plena ria Formosa, no Algarve, onde é possível subir ao farol e só se chega de barco, quando este não encalha. E, em jeito de confidência até conta que costuma apanhar conquilhas. Sabe qual é o truque? Margarida Vargues do Pano p´ra Mangas ensina.
São oito e um quarto da manhã e o sol já pica na pele enquanto aguardo pelo barco que me levará ao meu paraíso perdido (que não é assim tão perdido como tudo isso, mas eu gosto de ainda o pensar assim...). Quinze minutos depois as últimas pessoas embarcam, ouve-se o apito e as cordas largam o cais. Espera-me uma viagem de quase uma hora pela ria Formosa, entre bancos de areia e viveiros de marisco, onde a mestria de quem segura o leme consegue passar sem ficar encalhado – e às vezes acontece... Sabe bem sentir a brisa no rosto enquanto se avista as muralhas da cidade a ficar para trás e à nossa frente, cada vez maior aos olhos, se aproxima o Farol do Cabo de Santa Maria, o mesmo que dá nome à ilha.
Saio do barco, atravesso a ponte e a sensação que tenho é a de que estou num outro mundo. Aqui respiro paz, tranquilidade, silêncio e muitas e boas memórias. Aqui as horas marcadas pelos ponteiros do relógio deixam de fazer sentido e o tempo passa a ser marcado pelo sol e pelo estômago – mas até esse deixa de ser relevante. Aqui os males da civilização são esquecidos e a palavra stress é eliminada do dicionário.
Rumo à praia para reservar o meu canto no areal e vou até ao marAmais para o primeiro café do dia – porque mesmo na ilha há rituais que não dispenso – que me sabe ao melhor café do mundo, nem que seja pelo facto de o poder tomar sentada num baloiço a olhar o infinito. O dia é passado entre a areia e a água mais cristalina (e salgada!) que conheço, onde conseguimos ver os dedos dos pés e os pequenos cardumes de peixes em nossa volta. Com sorte, a maré está vazia e é possível apanhar conquilhas usando o método mais tradicional: enterra-se o pé na areia, roda-se e deixa-se que estes deliciosos bivalves venham à superfície. Ahhh maravilha!!!!
Um passeio na praia, num areal a perder de vista ou no molhe que quebra a entrada do oceano na ria são passeios obrigatórios. É giro ir observando as pessoas que se cruzam, muitas delas filhas da terra e que se cumprimentam de uma forma tão característica que é impossível traduzir por palavras. Toda a gente conhece toda a gente, mesmo os que vêm de fora.
O dia não fica completo sem uma subida ao farol. Vale a pena esperar pela tarde para ir bater à porta do faroleiro. São 220 degraus em espiral e no topo dos seus 46 metros (50 a partir do nível do mar) a paisagem é simplesmente deslumbrante! De um lado a terra e os montes que separam o Algarve do Alentejo, do outro um mar em diversos tons de azul que se chega a confundir com a linha do horizonte e onde se pode avistar Marrocos (brincadeira!!!)
O regresso é feito no último barco, de corpo e alma renovados e cheios de energia para mais uma semana de trabalho – porque aqui também se trabalha. Também acontece perder-me nas horas e acabar por deixar o barco partir... Pânico? Não! Há o mar-táxi que me traz de regresso a terra.
Escrever sobre esta ilha é escrever emoções e recordações. É lembrar-me dos serões à luz do candeeiro a petróleo, das noites a contar estrelas, do espetáculo que é o nascer da lua cheia, do maior escaldão da minha vida, dos barulhos dos geradores de eletricidade ao cair da noite ... o melhor mesmo é apanhar o barco e ir até lá viver tudo isto!
A autora e o blogue
Inseparável da máquina fotográfica e do bloco de apontamentos, quando não anda em trânsito Margarida Vargues vive em Faro. Professora de Inglês de formação, e life coach de coração, criou o blogue Pano p’ra Mangas em 2005 para mostrar os seus trabalhos manuais e outras ocupações das horas livres. Em 2012 foi para Londres onde ficou um ano e meio. Regressou ao Algarve onde vive entre a mini-horta, a máquina de costura e os mil e um projetos a que vai emprestando as suas artes.
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