A tradição do bacalhau em Ílhavo

As memórias da pesca do bacalhau revivem-se no Navio-Museu Santo André e no Museu Marítimo de ílhavo. Aqui nasceu, em 2013, o primeiro e único aquário de bacalhaus do país. A Eva Marcela do blogue Documentar o Mundo andou por lá e conta o que há para ver.

Portugal tem uma grande tradição de pesca de bacalhau que terá começado no início do século XVI. Muitos foram os que embarcaram nos bacalhoeiros e partiram para a Terra Nova e Gronelândia.

Em Ílhavo, o Navio-Museu Santo André é o testemunho do que era a vida a bordo durante as campanhas. Em 1948, era o maior arrastão bacalhoeiro construído na Holanda. A pesca à linha nos pequenos dóris foi substituída pelas redes, puxadas pelo grande guincho. Quando chegava ao barco, o bacalhau era processado e enviado para o porão, onde era salgado. Ao colocar-me no centro, imagino os bacalhaus empilhados até ao cimo, ou seja, cerca de 1000 toneladas. Quando o porão estivesse cheio, terminava a campanha e regressava-se a casa.

A vida no barco era dura e com poucas condições. Cada camarote tinha vários beliches e um aquecedor para ajudar a suportar as baixas temperaturas. Na cozinha ainda existem panelas e tachos. A chaleira no fogão não tem água quente e na despensa apenas restam alguns cartões de ovos vazios mas com um pouco de imaginação consigo sentir um ambiente quente que traria algum conforto aos homens.

Um bom complemento a esta visita é o Museu Marítimo de Ílhavo. Inicio pela reconstituição de um barco de pesca do bacalhau cortado pelo convés. Pode subir-se a bordo e circular. O ambiente é bastante nostálgico. Basta recordar a invocação divina gravada no dóri ou as palavras de um pescador que escreve sobre as saudades da família.

O Aquário dos Bacalhaus é o espaço pelo qual aguardo. Pela sua projeção em espiral, é possível ver os bacalhaus inicialmente de cima e ir descendo até à base. Adultos e crianças ficam igualmente fascinados pela beleza como nadam. Os bacalhaus parecem já estar habituados. Continuam indiferentes às voltas.

Hoje, o bacalhau é processado logo após a captura e congelado de seguida. Só quando chega ao Cais dos Bacalhoeiros, na Gafanha da Nazaré, é que se inicia o processo de salga. São vários os armazéns das empresas de pesca aqui sediados e bastante concorridos pela venda de peixe a preços inferiores do que noutras superfícies comerciais. É aqui que se encontra atracado o veleiro Santa Maria Manuela utilizado na pesca do bacalhau até ao início dos anos 90. Foi requalificado e hoje é usado em passeios turísticos.

A autora e o blogue
Eva Marcela é documentalista de formação e viajante de coração. Iniciou o blogue em 2012 onde partilha os lugares que visita. Nunca sai sem um caderno de capa dura e várias canetas. Recebeu o prémio de melhor blogue de viagens pessoal na 1ª edição dos BTL Blogger Travel Awards 2014.
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2016-03-30

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