Tem um dos mais bonitos cenários para uma sala de refeições - com esplanada sobre a praia - mas a decoração de interiores marítima e de bom gosto não desilude. Uma vitrine com peixe sempre fresco a puxar para a grelha rivaliza com as sugestões fixas, como a cataplana e os arrozes de marisco e cherne.
Bar/Sala de espera: BarQuem segue para sul, o mais perto que pode do mar, conhece a estrada que vai de Sines para Porto Covo. Mesmo tendo pressa em chegar mais abaixo, a Vila Nova de Mil Fontes, à Zambujeira ou até a Lagos, parar aqui é uma boa acção em benefício próprio.
Durante anos, a beira desta estrada tinha velhos restaurantes. Grandes, de boa comida e fraca decoração. Era bom mas apetecia mais. Felizmente alguém percebeu isso e deu-se ao incómodo de fazer uma coisa melhor: o Trinca Espinhas.
A praia de São Torpes é suspeita. Diz-se que há um recanto com água mais quente e vêem-se ao fundo umas chaminés industriais. Por isso há quem nem se atreva a pôr os pés na areia. Fazem mal.
A água quente é limpa e estas chaminés, garantem, não fazem mal nenhum. Além disso, há o estranho cenário do Porto de Sines visto ao longe, e uma colecção de surfistas ou windsurfistas — dependendo do vento e das ondas, claro — a colorir a paisagem.
Suspenda-se então a viagem e pare-se aqui. A entrada oficial para o restaurante faz-se pela porta virada para a estrada mas o truque é dar a volta e entrar por onde a vista é melhor, pelo lado da praia.
Na esplanada de pedra estendem-se mesas de madeira clara com cadeiras de realizador cobertas com lona beije. Encostada a uma das paredes do restaurante há uma cadeira de palha com um toldo branco, sempre ocupada por um boneco preto, confortavelmente instalado de frente parta o mar. É esperto este boneco. A alternativa, em dias de muito sol, é uma parte da esplanada mais recatada e coberta, onde se estendem longas mesas de madeira.
O único problema aqui é que quem decide ficar cá fora tem que se contentar com pouco menos de metade da lista disponível. Pratos propriamente ditos é só lá dentro. Mas com gambas grelhadas, salada de polvo ou as raras favinhas bem temperadas está-se mais que bem. E a vista. A vista sem vidros nenhuns a interromper.
Bom, mas às vezes a fome, ou a vontade de comer — que não é a mesma coisa — faz as suas exigências. E como lá dentro a vista não se estraga, o melhor é rendermo-nos ao apetite e entrar.
As mesas, tal como as cadeiras, as paredes, e até o tecto, estão pintadas de um azul desmaiado, como que manchado. A um lado há uma velha mercearia que faz inveja a quem tem em casa uma parede grande onde uma coisa assim podia caber. O resto são janelas com vidrinhos aos quadrados, protegidos por breves cortinas que não tapam a vista.
Desde que se tenha chegado antes das quatro da tarde, limite injusto para quem está de férias, almoça-se então com vista e sabor de mar. Sim, mais uma vez, a opção pela carne parece ser crime.
E o peixe aqui é tão bom. Além de também haver, entre outras coisas, um apetecível arroz de tamboril. Para rematar, e com a certeza de que depois disto tudo já não há banho para ninguém, tente-se o doce de laranja com merengue.
Depois o que se quer mesmo é ficar por ali. Talvez de novo na esplanada, até que seja noite e a vontade de comer regresse. Há praias assim, onde por alguma estranha razão apetece mais ser voyeur do que participante. E um dia inteiro entre a esplanada e a sala de jantar não parece um dia mal passado. Nada, mesmo.
REPORTAGEM ACTUALIZADA EM JULHO DE 2009