Três chefes, três visões, um só espaço. Hugo Ferreira, Thomas Mancini e Adam Heller são a cabeça, tronco e membros deste projeto nascido em fevereiro de 2015. O nome do restaurante - Chimera - alude à criatura mitológica formada por partes do corpo de diferentes animais. A intenção é clara: reforçar a ideia de que o resultado de três estilos diferentes é melhor do que a soma das partes. O todo é uma ementa sedutora, arrojada, que mistura influências de várias culturas gastronómicas. Ao almoço, os pratos são mais simples e acessíveis. Ao jantar, saboreie sem pressa alguma o menu de degustação que se desdobra em três versões: de três, cinco ou sete pratos.
Acessos: Metro Rato ou AvenidaCozinha de autor com cabeça, tronco e membros
Três chefes, três visões, um só espaço. Hugo Ferreira, Thomas Mancini e Adam Heller, todos amigos e nascidos em diferentes continentes, decidiram juntar os tachos no mesmo restaurante e chamaram-lhe Chimera, tal como a criatura mitológica composta por várias partes de animais. Mas aqui a história é outra. Este monstro é mais descontraído, gosta de arte e tem queda para a gastronomia criativa.
Desde fevereiro de 2015 que há um monstro à solta na rua do Salitre, em Lisboa. O Chimera, restaurante inspirado nas criaturas mitológicas da Grécia Antiga, resulta do cruzamento entre três chefes com raízes diferentes – Hugo Ferreira é português, Thomas Mancini brasileiro e Adam Heller americano – mas com a mesma vontade de criarem um espaço e um conceito único na capital.
A ideia de trabalharem juntos já vinha de longe, desde os tempo em que passaram pelos mesmos restaurantes (como o Insólito ou o The Decadente), mas concretizou-se quando Mancini decidiu dar novo corpo e alma à casa que tinha na altura: o Di.Ga. Desta metamorfose nasceu o Chimera, cujo logo (criado pelo artista Hugo Makarov, que também desenhou a Popota) junta um bode, um galo e um peixe-espada. Quando o encontrar junto à entrada saberá que chegou ao sítio certo.
Da quinta para a cidade, do coração para as paredes
Quem conhecia o Di.Ga e entra pela primeira vez no Chimera dificilmente acredita tratar-se do mesmo espaço. A anterior sala de paredes brancas e cadeiras tipo café veste-se agora a rigor num misto de estilos, entre o vintage, o rústico e o sofisticado. O mobiliário recuperou inúmeras peças antigas, trazidas de uma quinta da Várzea de Sintra, desde máquinas de costura a mesas com tampos de azulejo, passando por uma fonte de jardim entretanto transformada em lavatório. Um toque retro que só termina no teto, totalmente forrado com caixas, portas e janelas de madeira.
Mas o elemento mais marcante da sala (e até das casas de banho) é a arte que emoldura as paredes, assinada pelo artista brasileiro Mozart Fernandes. Pinturas bastante gráficas e expostas mas que deixam a nu o espírito da casa: jovem, irreverente, criativo. Isso sobressai, por exemplo, no grande coração vermelho pintado junto ao balcão, numa punk em traços negros ou numa jovem em lágrimas.
Os espíritos mais revivalistas também vão gostar de ouvir o gira-discos, uma quase antiguidade comprada no Barateiro da Casa Amarela, conhecida loja/antiquário que também abasteceu outras peças. James Taylor, Phil Collins ou ABBA são alguns dos grupos residentes mas a parceria com a Twice (loja de discos do Príncipe Real) promete novas sonoridades de tempos a tempos. Quanto ao ambiente, é bastante descontraído e multifacetado, sobretudo à noite quando a casa se enche de turistas estrangeiros.
Criatividade e descontração em dose tripla
Se o ambiente é descontraído, a cozinha é apurada e faz jus ao percurso dos chefes. Thomas Mancini, por exemplo, estagiou no famosorestaurante Mathias Dahlgren, em Estocolmo (Suécia), Hugo Ferreira esteve no Amass, em Copenhaga (Dinamarca) e Adam Heller chefiou o lisboeta The Insólito. No Chimera qualquer um deles vai à cozinha e, por vezes, até podem ir todos ao mesmo tempo, num curioso cruzamentos de culturas, gostos e influências que torna a gastronomia do Chimera ainda mais singular.
Ao almoço os pratos são rápidos e simples mas não deixam de ter o um toque de charme. Assim acontece na perna de frango assada com polenta, no gratin de legumes ou no crème brûllé (sobremesa), apenas três exemplos de uma lista renovada todas as semanas. O preço de um menu completo (prato, entrada ou sobremesa e café) custa 7€. Ao jantar o caso muda de figura e a carta torna-se mais completa e sofisticada, propondo um conceito diferente, com preços a condizer. A ideia é que seja o próprio cliente a compor o seu menu de degustação, optando entre três (15€), cinco (22€) ou sete pratos (28€).
Mais uma vez, as propostas estão sempre a variar – podem depender do humor do chefe ou dos produtos disponíveis no mercado nesse dia – mas primam sempre pela criatividade e sedução. Quando visitámos o restaurante fomos surpreendidos em todos os pratos, do pica pau com corações de galinha e picles caseiros, às migas com lagostins e moscatel, passando pelo gelado de mel, com gengibre, caramelo e sésamo. Já a carta de vinhos contava com uma dúzia de referências, todas nacionais.
O serviço não é propriamente rápido mas esse também não é o principal objetivo. Aqui o tempo é gerido com emoção e os chefes preferem dar mais atenção ao clientes que ao empratamento. Não é raro vê-los chegarem à mesa, puxarem conversa e deixarem-se ficar.
O Chimera pode ter nome de monstro mas é simpático, tem bom coração e, mais importante que isso, sabe cozinhar. A continuar assim, qualquer dia torna-se um mito.
2015-03-30