Inserido no Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Museu da Geira foi inaugurado em junho de 2013 e é dedicado à via romana que ligava Braga a Astorga, em Espanha. O concelho de Terras de Bouro preserva um percurso com a extensão de 30 quilómetros desta antiga via. O museu está estruturado em quatro salas temáticas, um auditório e gabinetes para estudos arqueológicos. A primeira sala debruça-se sobre o planeamento e a análise topográfica da via romana da Geira; a segunda ilustra os métodos de construção, dando a conhecer os processos de extração das pedras e de edificação das vias e as pontes; a terceira intitula-se Viajar na geira e dá a conhecer o espólio romano de restaurantes, hotéis, termas, mercados e postos de combustíveis; por fim, a quarta sala está reservada à paisagem e mostra a sua evolução desde a idade do ferro à idade romana. Através de uma tábua cronológica, o visitante pode ainda fazer uma viagem de 2000 anos pela geira romana.
Dia(s) de Encerramento: Não encerraO Gerês natural, comunitário e romano
Campo do Gerês, uma das portas do parque nacional, recebe os visitantes com três espaços distintos mas interligados que dão a conhecer as várias faces da mais antiga área protegida do país. Da formação geológica à via romana da Geira, passando pela etnografia de Vilarinho das Furnas, o núcleo museológico de Terras de Bouro faz uma viagem por alguns dos locais e períodos mais marcantes deste território. Venha descobrir de que natureza é feito o Gerês.
Vinte e cinco anos depois da inauguração do Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas e 10 anos depois da abertura do espaço Porta do Parque Nacional, o Campo do Gerês voltou a receber um novo museu, desta vez dedicado à via romana que ligava Braga a Astorga, em Espanha. Este vale por si só a visita mas não há nada como conhecer no mesmo dia todas as áreas que compõem o Núcleo Museológico de Terras de Bouro. Às portas do Gerês há três janelas abertas para este território singular.
Espaço Porta do Parque Nacional Peneda-Gerês
A melhor forma de começar a conhecer o Gerês é descobrindo como surgiu, de que é feito, quem o habita. É o que revela o espaço Porta do Parque Nacional, situado no piso térreo do Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas, um edifício construído com pedras das casas da antiga aldeia, submersa pela barragem. Dividida por várias salas temáticas, esta exposição inaugurada em 2005 começa por descrever a formação da serra do Gerês e caraterizar a sua geologia, altura em que o granito torna-se incontornável.
Segue-se a sala da História da Chuva, dedicada aos cursos de água e à vegetação ribeirinha, enquanto a Sala História do Bosque lembra as principais espécies de flora existentes nestas paragens, como os carvalhos, os sabugueiros ou os fetos. Já entre os animais merecem especial destaque o corso, símbolo do parque nacional, o lobo, cada vez menos avistado e a víbora cornuda, a cobra mais perigosa da região.
Espaço natural por excelência, o Gerês é também marcado pela presença do Homem, como lembra a sala Território Museu de Montanha dedicada às tradições e culturas, aos usos e costumes e à arquitetura rural. Dos fojos do lobo, antigas “ratoeiras” construídas pelo povo, aos currais no alto das montanhas, esta área mostra como a ocupação humana se adaptou às exigências do território, sem nunca perder a cumplicidade com a Natureza.
Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas
Mais do que recordar o dia 14 de maio de 1972, data da inauguração da barragem que submergiu Vilarinho das Furnas, este museu prefere recriar as boas memórias da aldeia. Logo no início, várias fotografias e objetos da época mostram as brincadeiras das crianças e o dia-a-dia da povoação. Mas o destaque vai para os testemunhos da organização comunitária, desde a atividade agrícola e racionalização do trabalho à partilha de recursos naturais. As decisões eram tomadas pelas juntas ou ajuntes (uma espécie de assembleia geral) que todas as semanas reunia os representantes de cada família. Um modo “demasiado” democrático para o regime ditatorial da época que, diz o povo, pode ter ditado a ordem de construção da barragem.
A maior sala deste museu é dedicada ao trabalho do campo. Além de mostrar um grande arado e várias alfaias agrícolas evoca também o sistema das vezeiras que, à vez, levava o gado a pastar nos montes. Miúdos e graúdos também vão gostar de ver um tipo de calçado da época – a chanca – que utilizava a madeira de vidoeiro para a sola, enquanto o resto era feito de pele seca de animais.
A parte final do museu é dedicada às antigas casas de Vilarinho das Furnas, desde os quartos (divisões pequenas e simples com pouco mais que uma cama e uma arca) à sala do tear, presente em quase todas as habitações. Afinal, não havia dona de casa que não soubesse tecer o seu bragal e outro vestuário de lã. A divisão mais importante era, no entanto, a cozinha, onde não podia faltar a lareira, o forno de cozer pão ou a masseira. E sala de estar? Não havia. Em terra de trabalho o descanso não tinha lugar.
A joia da coroa do Núcleo Museológico de Terras de Bouro é o Museu da Geira, dedicado à via romana que ligava Braga a Astorga, numa extensão de 30 quilómetros. O nome deve-se à jornada de trabalho (geira deriva de jorna) que a população local cumpria durante a construção do caminho. A primeira sala deste espaço é dedicada à planificação da via por isso mostra os equipamentos utilizados na época, além de uma grande maquete que situa a Geira no contexto do Noroeste Peninsular.
Segue-se a construção da via e mais algumas maquetes que descreviam esta fase, desde a extração e transporte da pedra à edificação das estradas e pontes. Viajar na via nova (como também é chamada a via da Geira) é o título da sala seguinte onde salta à vista um carro de transporte (biga) utilizado por militares de alta patente. Pelo caminho os viajantes comiam, descansavam e tratavam dos animais nas chamadas Mansiones e Mutationes, uma espécie de estações de serviço para a época. A quarta e última sala mostra a evolução da paisagem (da Idade do Ferro à época romana) além de uma área sobre as aras ou altares, pedras dedicadas ao culto dos deuses romanos. Por fim há ainda uma grande tábua cronológica que leva os visitantes numa viagem pelo tempo com mais de 2 mil anos, desde a construção da Geira (século I d. C.) aos nossos dias.
Ao longo do museu encontram-se ainda alguns marcos (ou miliários) originais que serviam para marcar a distância (milhas) percorrida na via, mas que também apresentavam outras informações, como o nome do imperador romano da altura e os seus principais feitos. Curiosamente, Terras de Bouro é o concelho com mais marcos do mundo romano (por metro quadrado) o que revela bem a importância histórica destas paragens.
Concluída a vista ao Núcleo Museológico nada melhor que partir à descoberta in-loco destra via, considerado por muitos um dos caminhos pedestres mais bonitos da região. Faça como Miguel Torga, que pôs os olhos nesta Geira romana e vingou-se de quantos “Césares o mundo tem dado, convencidos de que bastam mandar fazer calçadas e pontes, gravar numa coluna para que a eternidade fique por conta deles”. Com o museu da Geira, essa eternidade passa ao alcance de todos.
2014-07-08