A Associação de Municípios do Alentejo Central desenvolveu uma iniciativa de natureza turístico-cultural denominada a "Rota do Fresco" que consiste em visitas guiadas a uma selecção de exemplares de pintura mural das capelas, ermidas e igrejas de Alvito e quatro outros concelhos (Cuba, Portel, Vidigueira e Viana do Alentejo). Divulga esta curiosa forma de decoração das igrejas, muito característica do Alentejo, desde o século XV até inícios do XIX.
Duração: Visita de 1 dia: 1 dia inteiro (das 10H00 às 18H00 sensivelmente) incluindo a visita a um mínimo de 2 frescos e almoço regional.Visita de ½ dia: Duração de 3 horas (manhã ou tarde) incluindo o mínimo de 2 frescos e um máximo de 3 pontos de visita no total.Programas de 2 ou 3 dias: Jantar regional, visita de dia inteiro, lanche ajantarado, visita de ½ dia e almoço regional.(O Projecto Rota do Fresco assegura a entrada em todos os locais da visita, assim como a totalidade das marcações / reservas do programa escolhido).Tatuagens nas paredes
De muitas não se tinha a certeza da existência, encobertas que estavam pelas diversas camadas de cal que há séculos as escondiam. Ressuscitadas, embora ainda não na totalidade, as pinturas murais alentejanas, cujos vestígios estão na sua maioria ligados ao culto da fé, chegaram, num tempo da nossa história, a serem consideradas uma arte menor. Mas hoje em dia são as personagens principais da “Rota do Fresco”, em funcionamento desde 2001.
O Baixo Alentejo acrescenta, assim, um novo e promissor roteiro cultural aos já conhecidos. E não é por acaso, até porque a maioria dos exemplares que se encontram documentados no nosso país estão aqui. Os seus encomendadores faziam parte de vários extractos sociais. Irmandades, confrarias, misericórdias, nobres e inclusivamente reis chegaram a suportar as empreitadas. Mas saíram de moda quando o azulejo começou a ser largamente utilizado.
Este tipo de pintura é um denominador comum a pelo menos cinco concelhos - Viana do Alentejo, Vidigueira, Portel, Cuba e Alvito. São dezenas de edifícios religiosos integrados na rota, que na verdade não é só uma, mas muitas e variadas. Dezenas de edifícios religiosos integram esta rota, que na verdade não é só uma, mas muitas e variadas.
Para além de se configurar como uma outra atitude de viagem, a “Rota do Fresco” vai muito mais além, chegando à preservação, conservação e restauro do património onde as pinturas estão inseridas. O projecto, criado pela historiadora Catarina Valença Gonçalves, é actualmente gerido pela empresa Spira que tem como objectivo atribuir uma dinâmica social e económica ao património arquitectónico considerado inactivo ou sub-aproveitado.
Os passeios de dia inteiro, especializados em cada um dos concelhos, realizam-se das dez da manhã até ao final da tarde e incluem a visita a pelo menos dois edifícios com pintura mural. Vinte e cinco euros é o preço mínimo (o preço varia consoante os concelhos visitados) para um dia de passeio com transporte assegurado entre os vários pontos de visita, guia de pinturas murais e almoço regional, que isto de passear de barriga vazia não combina.
Pode ainda visitar um monte tradicional alentejano ou participar em diversos ateliers - do pão; da olaria; do mel; do vinho; de cozinha regional ou de tecelagem. Algumas das experiências que o projecto Rota do Fresco lhe pode proporcionar.
Sinfonia nos céus
Abóbada e paredes da Ermida de São Sebastião no Alvito parecem tatuadas. Anjos músicos, cada qual com o seu instrumento, povoam o “céu” deste templo quinhentista. Do “travelling” pela abóbada descemos à terra com um plano mais aproximado das figuras de santos que se encontram nas paredes. E caso existam dúvidas quanto às identidades (embora os símbolos ajudem) é só ler as legendas com os nomes.
Totalmente incorporados no cenário, estes vestígios de uma campanha de pintura mural que cobriu na totalidade a igreja, são um bom exemplo da variedade e qualidade desta forma de expressão artística datada de 1611.
Nos acasos em que a História é pródiga, constam terramotos e remodelações várias que estragaram obra feita. Parte do conjunto destas pinturas murais desapareceu mas o que vemos faz-nos pensar na mestria do pintor regional e no sentido de harmonia ao abrir-nos uma janela para um imaginário religioso pautado pela sinfonia visual na qual nenhum instrumento se repete. Agora é só fechar os olhos e pensar no esplendor da cor na sua totalidade.
Este edifício religioso situado no Rossio de Alvito tem na senhora Arlinda uma percentagem da atracção que torna esta visita singular. É ela que guarda religiosamente a chave do templo como São Pedro as do céu. É neste contacto com a população local que a rota também aposta. A dona Arlinda é ainda a guardiã da pedreira situada nas imediações. Uma visita rápida que muito conta acerca da arte de extracção de mós.
2004-09-21
