As Ruínas Romanas de Tróia, com dois mil anos de história, são o maior complexo de produção de salgas de peixe conhecido no mundo romano. Construído para aproveitar a riqueza do peixe do Atlântico e a qualidade do sal das margens do Sado, terá estado ocupado até ao século VI.
O seu elemento mais típico é o conjunto das oficinas de salga, com tanques para preparação de conservas e molhos de peixe, incluindo o garum, muito citado entre os autores latinos. Também estão a descoberto termas com salas e tanques para banhos quentes e frios, um núcleo de habitações com casas de rés-do-chão e primeiro piso, uma rota aquaria (roda de água), um mausoléu, necrópoles com distintos tipos de sepulturas e uma basílica paleocristã com paredes pintadas a fresco.
Desde 1910 que estão classificadas como Monumento Nacional. Em 2005, mediante um Protocolo celebrado com o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e o Instituto Português de Arqueologia (IPA), actualmente parte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), o troiaresort criou uma equipa de arqueologia que desenvolve trabalhos de investigação no local.
A par dos trabalhos de valorização em curso, o sitio arqueológico está aberto à visita, e é possível organizar actividades lúdico-pedagógicas para grupos.
Em 2011 foi criado um novo percurso de visita, com cerca de 450 metros, projectado pelo arquitecto paisagista Hipólito Bettencourt, com painéis explicativos, sinalética e outros elementos de divulgação da autoria do designer Francisco Providência.
Entre a agitação turística de Tróia escondem-se os vestígios de uma civilização com 2000 mil anos, que são o legado de um dos mais importantes sítios arqueológicos da época. Votadas ao abandono durante décadas, as ruínas romanas começaram agora a ser recuperadas mas já recebem visitas do público.
Ainda Tróia era uma pequena ilha do estuário do Sado, chamada de Ácala, quando os romanos transformaram o local num dos mais importantes centros de produção de salgas de peixe no Ocidente. Foi um apreciadíssimo preparado de peixe (espécie de paté da época) que lhe trouxe fama (e proveito), tantos eram os navios que daqui partiam carregados com esta “especialidade gourmet”.
Muito utilizado na culinária da época, sobretudo pelas famílias mais ricas, chegou a ser vendido a preços exorbitantes. A sua produção era feita naquele que é hoje é considerado o maior complexo de conservas e molhos de peixe do Império Romano. É aqui que começa a nossa visita pelo povoado romano de Tróia.
Os inúmeros tanques saltam-nos imediatamente à vista. Com formatos e tamanhos diferentes (o que sugere diferentes tipos de produtos), serviam para salgar o peixe, deixando macerar as vísceras que, depois de seleccionadas e fermentadas com ervas aromáticas, davam origem ao tão afamado molho de peixe: o garum.
Próximo deste conjunto industrial fica a zona da necrópole. O local revela-nos como se encarou a morte durante os cinco séculos de ocupação do povoado, desde o século I ao século VI. Por exemplo, se a sepultura de Galla remete para a época em que se queimavam os corpos (século I), o mausoléu mostra como no século IV os corpos já eram depositados em urnas.
O encanto da princesa
Bem próximo da margem do rio encontramos o que resta das habitações romanas, algumas delas com dois pisos e luxuosa decoração, como provam os mosaicos e pinturas a fresco lá encontrados. É aqui que fica a Rua da Princesa, assim chamada devido ao fascínio que a então princesa D. Maria (mais tarde rainha) ganhou por este local.
Foi graças a ela que, a partir de finais do século XVIII, a casa real passou a financiar escavações arqueológicas em Tróia. E a riqueza dos achados era tal que mais tarde, em 1850, motivou a criação da primeira Sociedade Arqueológica Lusitana, pensada especialmente para as escavações nesta zona.