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Rota Tons de Mármore

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A Rota Tons de Mármore pretende dar a conhecer o Património Cultural e Industrial do Alentejo através do riquíssimo espólio marmóreo do Anticlinal de Estremoz.A promoção desta importante actividade industrial, bem como a divulgação do território que a acolhe são os principais objectivos da Rota Tons de Mármore. Foram assim criados diferentes circuitos, adequados a diferentes gostos e interesses, transportando os visitantes desta rota para uma fascinante e viagem ao estranho mundo do mármore alentejano.

Morada: Rua 5 de Outubro 20
Código Postal: 7100 101 ESTREMOZ
Tel: 284475413
E-mail: info@compadresdofresco.com
Site: www.rotatonsdemarmore.com
Distrito: Évora
Concelho: Estremoz
Freguesia: Santa Maria

Rota Tons de Mármore


Viagem ao centro da pedra


Nelson Jerónimo Rodrigues

Do fundo agreste de uma pedreira ao esplendor de um monumento, o Alentejo revela-se em estado bruto nesta rota dedicada aos caminhos do mármore. Múltiplos percursos por cinco concelhos dão a conhecer um dos maiores filões de “ouro branco” do país, entre pedras esquartejadas, máquinas poderosas e homens de coragem. Depois desta experiência nunca mais verá o mármore da mesma forma.

Talvez nem tenha dado por ele, mas é bem provável que hoje já se tenha cruzado várias vezes com o mármore. Das micro partículas que compõem as pastas de dentes, às bancadas de cozinha e casa de banho, passando por estátuas e edifícios em todas as cidades do país, há muito que este material está presente no nosso dia-a-dia. Uma boa parte vem das pedreiras de Borba, Estremoz ou Vila Viçosa, onde existe um dois maiores centros europeus de extração de mármore.

É por estes três concelhos e outros dois vizinhos – Sousel e Alandroal – que passam os caminhos da Rota Tons de Mármore, criada em 2013 pelo Turismo do Alentejo e montado pela empresa Spira ao serviço desta entidade. O objetivo é revelar as múltiplas facetas desta pedra que há mais de dois mil anos (desde a época dos romanos) marca o corpo e a alma da região. Há percursos que vão das três horas/meio-dia (20€) aos três dias (120€), todos com passagem por uma pedreira, uma fábrica de transformação e vários locais onde a pedra surge aplicada, já para não falar das outras riquezas alentejanas, como a paisagem e a gastronomia. Venha daí descobrir este património de peso.

Nas entranhas da terra

Não é por acaso que a Praça da República de Vila Viçosa serve de ponto de partida ao percurso de meio-dia (o que nós fizemos) da Rota Tons de Mármore. O salão de visitas da localidade está repleto de monumentos com esta pedra, da igreja de São Bartolomeu à fonte central, tornando-se o aperitivo ideal para este passeio. Daqui seguimos para o concelho vizinho de Borba (a cerca de 5 minutos de automóvel) onde fica a pedreira da Marmetal, uma das sete a aderir à iniciativa.

Um enorme buraco com mais de cem metros, rodeado por escombros e caminhos enlameados, criou um local estranho e agreste que daria um bom cenário para qualquer filme de ficção científica. Lá ao fundo, homens e máquinas parecem minúsculos, trabalhando com afinco na perfuração, serragem e desmonte da pedra, os três principais momentos do processo de extração. Os enormes blocos são depois retirados em gruas ou pás carregadoras enquanto os escombros (os restos da pedra) têm de ser transportados em enormes camiões chamados dumpers.

Será um destes gigantes amarelos que nos há de levar até ao interior da pedreira mas antes ficamos a conhecer os principais tons do mármore da região – branco, rosa Portugal, creme e cinza ou ruivina- e outras curiosidades relacionadas com esta pedra. Por exemplo, sabia que o mármore mais puro, depois de transformado em pó, é um dos componentes das pastas de dentes? E que quase todos os palácios dos ditadores do Médio Oriente (Saddam Hussein e Kadhafi incluídos) utilizaram mármore do Alentejo? E até o famoso hotel do Dubai Burj Al Arab (o primeiro sete estrelas do mundo) também fez questão de utilizar a matéria-prima nacional.

A descida até ao interior da pedreira é, por si só, uma experiência única e inesquecível. Desde logo porque a dimensão dos dumpers e os rebentamentos ocasionais metem respeito mas, sobretudo, porque a inclinação e estado dos caminhos parecem uma tarefa (quase) impossível. Lá em baixo sentimo-nos ainda mais pequeninos e percebemos a dureza do trabalho numa pedreira, onde as temperaturas (altas e baixas) atingem valores extremos e qualquer queda de pedra pode ser fatal. Escondido durante milénios nas entranhas da terra, o mármore não se deixa extrair com facilidade.

Nada se perde, tudo se transforma

De regresso à “superfície” seguimos sem mais demora para a fábrica de transformação do mármore, um grande pavilhão onde os blocos mais pequenos ou partidos são cortados em bandas e depois utilizados, por exemplo, como pavimento ou revestimento de casas e hotéis. Lá dentro o ruído é ensurdecedor por isso as principais explicações são dadas à entrada, como o destino final desta pedra, quase toda exportada para o Médio Oriente.

Entre a fábrica e uma pedreira desativada (visto do céu o terreno mais parece um queijo suíço) fica a chamada zona de esquadriamento, onde o mármore é transformado em blocos. A ideia seria levá-los depois para a área de exposição mas a grande procura faz com que boa parte seja vendida ali mesmo. Alguns dos compradores são artistas e escultores de todo o mundo que já não dispensam o mármore nacional.

Depois da visita à Marmetal costuma seguir-se uma espreitadela à Pedreira do Mouro (um bom miradouro para a região envolvente) mas a chuva e o nevoeiro não o permitiram, por isso regressámos a Vila Viçosa, já com um novo olhar sobre cada esquina e monumento da povoação. O icónico Paço Ducal, por exemplo, nunca nos pareceu tão belo, atraídos pelo mármore que reveste toda a fachada do edifício. E que bem lhe assenta a mais nobre pedra alentejana. 

2014-12-02
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