Decorada entre o verde, o vermelho e o amarelo, é uma tasca típica e castiça cujos motivos decorativos convergem num só sentido: a tourada (os cartazes de tauromaquia são apenas a ponta do iceberg). E o facto do exterior já se parecer com uma praça de touros em ponto pequeno não é ao acaso. Centro e trinta anos de existência, onde os petiscos e as iguarias (receitas ainda mais antigas que o restaurante) são consumidas em mesas de mármore.
Dia(s) de Encerramento: DomingosSensivelmente a meio da Rua Pedro de Santarém há uma discreta casa amarela com portas de saloon, dessas que abrem em par, conhecida como “Taberna do Quinzena”.
Entrei e vieram-me à memória os meus tempos de estudante em Coimbra, das tascas da Alta. O ambiente era praticamente o mesmo. Na primeira sala, bancos de madeira corridos onde um grupo de homens está sentado a deitar conversa fora. A olho nu calculo a média de idades, para aí uns 50 anos, só juventude.
Junto ao balcão de mármore malhado, mais uns quantos amigos discutem as trivialidades da vida, também eles clientes regulares da casa. Normalmente nesta sala do Quinzena não se come, apenas se bebe. As paredes estão forradas com bonitos cartazes tauromáquicos que celebram a festa brava ou não fosse Santarém terra de touros e cavaleiros.
Atrás do balcão, o empregado que se embrenha também nas conversas mas que não descura a sua função de manter os copos cheios enquanto os homens vociferam. É curioso, pois até meados dos anos 90 praticamente não entravam mulheres nesta taberna. Era como um clube para homens, que vinham cá beber e petiscar qualquer coisa. Durante quase um século foi assim, até que o actual proprietário tomou conta do negócio e percebeu que podia rentabilizar o espaço. Assim, sem desvirtuar muito, adaptou as restantes salas de mesas de madeira e bancos corridos e fez o restaurante. Conservou os petiscos que o seu pai costumava fazer mas criou pratos do dia, bons, baratos e extremamente bem servidos. O bacalhau assado, o pernil de porco ou o pato assado no forno são alguns exemplos. E depois, se estes acabaram, há os pratos permanentes como as salsichas fritas ou a costeleta de novilho. Na prática, é possível almoçar até às seis da tarde, pois a cozinha não fecha. Tinha fome e pedi uma costeleta de novilho. Sem exagero dava para duas ou três pessoas, e garanto-vos que não foi sacrifício nenhum debater-me com tamanha peça de carne macia e gostosa. Terminei com um doce de amêndoa caseiro e como não podia deixar de ser, tive que provar a ginginha caseira, sob pena de fazer uma desfeita ao proprietário. Que barrigada, e tudo por bem menos de 15 €. Dá para acreditar? Hei-de voltar, mas da próxima vez sem ser em trabalho, que isto de comer tranquilo tem muito que se lhe diga.