Com a curiosidade de ocupar uma antiga escola primária, este restaurante tornou-se numa referência em todo o país pela excelência da sua cozinha que procura preservar o património gastronómico da região do Sado. Entre os pratos mais emblemáticos da casa, destaca-se, a título de exemplo, a empada de coelho bravo acompanhada de arroz de pinhão.
Acessos: EN 253, entre Álcacer do Sal e Tróia, na localidade de Cachopos.Antigamente eram pés descalços que faziam o caminho até esta escola que deu a primeira lição em 1950. Hoje é de carro que se chega. Quem vai a Cachopos, entre Tróia e Alcácer do Sal sabe “de cor e salteado” alguns dos atributos da cartilha que agora passou a ser gastronómica.
Vêm à procura de enguias à embarcadiço ou do cherne à barqueiro, mas também sabem que vão encontrar um passado que lhes foi tão familiar.
Nesta antiga escola, pode rever mapas antigos por onde estudou os rios e as linhas de ferro nacionais, carteiras de madeira com os buracos prontos a receberem os tinteiros e a caixa de sólidos e unidades de medida. Soa-lhe familiar?
No velho quadro de ardósia, onde outrora se aprendia o b-a-bá, está escrita a ementa. É assim desde que A Escola restaurante abriu há cerca de 12 anos. O proprietário cozinhou a lume brando o projecto de resgatar do esquecimento as memórias de uma cozinha antiga. Seguiram-se anos e anos de pesquisa materializados em quilómetros de distância por toda a zona do Sado, em conversas com familiares e até pesquisas na biblioteca, para se descobrir a história que cada sugestão apresenta.
Apesar da região ser rica no que à terra, ao mar e ao rio diz respeito, nem sempre o dinheiro abundava para a compra dos produtos. Valiam as artimanhas que proporcionavam uma cozinha variada, onde as ervas aromáticas cultivadas num canto da horta tinham um papel de destaque.
Nesta mesa, que é uma das melhores do país, nem sei o que vos hei-de recomendar. Tudo. A começar pela caça. Pombo de nabiçada, ensopado de lebre e empada de coelho bravo. Mas a intensidade dos sabores não se fica por aqui. Em nenhuma sugestão se encontra o standard, nem mesmo na ementa infantil. E quando uma criança se apresenta, é logo a primeira a ser servida. O parque infantil é um dos cenários da brincadeira.
Para os pais a refeição continua com um ensopado de cherne porque o mar está perto, o tomate dava-o a horta e o pão nunca faltava. O arroz de choco enriquecido com camarão é um pitéu. Quem é que não sabe da fama do Sado quanto a moluscos?
As carnes de porco, principalmente as partes menos nobres do animal eram aproveitadas pelos pobres e deixadas em calda de pimentão. Frita na banha, utiliza-se esse preparado para as batatas que ali rebolam até alourar. Assim se preparam as batatas de rebolão que também encontra na lista.
O ensopado de borrego era prato festivo mas ao comer de todos os dias, a Escola foi buscar o feijão adubado, que é quando à leguminosa, à linguiça e às sopas de pão se vem juntar o ovo escalfado. Uma forma de enriquecer (adubar) o cozinhado.
Acompanham os pratos, as migas e o arroz de pinhão. Para quem está habituado a vê-lo tão branco no prato é também um prazer deitar a vista na extensa área de pinhal manso que rodeia o restaurante.
Mas antes do encerramento da refeição seria um pecado não provarmos dos doces testemunhos de outrora guardados pelas freiras do convento de Aracoelli. As últimas palavras vão para a bebida. Vinhos que dominam a carta são bons representantes da vinha do Alentejo e do Sado. A refeição só termina com um licor de bolota de azinho assistido pela batata doce com açúcar e canela.
Depois de terminada a aula, já se está em condições de perceber por que razão, sempre que concorre, a Escola fica entre os melhores. Da região e do país. Essa é que é essa.
REPORTAGEM ACTUALIZADA EM JUNHO DE 2009