É a zona húmida mais extensa do país com uma grande biodiversidade e variedade de habitats e uma das maiores extensões contínuas de sapal. Um dos factores que mais contribuem para o valor e importância desta reserva é a presença da avifauna aquática migradora, que totaliza cerca de 194 espécies de ocorrência regular.
Este ecossistema contribui decisivamente para a preservação de 14 espécies de aves. Na zona terrestre envolvente assinalam-se 35 espécies de mamíferos, como a lontra, 9 de répteis e 11 de anfíbios. No que diz respeito à flora pode destacar-se os caniçais, a morraça, a gramata e a salgadeira.
A reserva compreende também as zonas de mouchões (da Póvoa, Alhandra e Lombo do Tejo), salinas e parte da lezíria adjacente, e nela foram demarcadas duas reservas integrais: a Reserva Integral do Mouchão do Lombo do Tejo, que visa a protecção da nidificação de algumas espécies, e a Reserva Integral de Pancas, da qual faz parte a maior mancha de sapal do estuário que se desenvolve entre a foz do Rio Sorraia e Alcochete.
De manhã, bem cedo, no Porto das Hortas em Alcochete, os pescadores preparam-se para mais um dia de pesca. Por entre as barracas de madeira que compõem esta vila piscatória, enfeitadas com materiais utilizados na faina, vão-se aproximando algumas pessoas, muito poucas diga-se, que pretendem conhecer o Estuário do Tejo. Lentamente, e meio envergonhados, dirigem-se e perguntam a um dos pescadores, geralmente aquele que parecer menos ocupado, se os pode levar a dar um passeio pela margem do rio. É desta forma que começa, quase para todas as pessoas, as vistas à Reserva Natural do Estuário do Tejo, considerada como uma das mais importantes da Europa. Sem hora, guia, nem preço marcado. É chegar, procurar um pescador e negociar o percurso e o melhor preço, que geralmente ronda os dez mil escudos.
Os barcos de madeira, pequenos e velhos, estacionados nas águas calmas do rio não inspiram confiança. Mas o melhor é nem pensar nisso, e rapidamente entrar no meio de transporte para esta viagem por um mundo que poucos conhecem. Longe do ruído da cidade, com muitos pássaros para ver e bonitas paisagens para apreciar. Tudo isto a pouco mais de 30 quilómetros de Lisboa. Saindo do Porto das Hortas, o destino seguinte é a Marinha de Vasa Sacos, mais ou menos a 20 minutos de distância, isto claro, segundo o Ti Zé, o motorista, pescador, ou comandante, conforme se queira chamar, de serviço para esta viagem. Um homem com os seus 60 anos de idade, simpático, que sempre viveu nesta zona e que dedicou a vida inteira à pesca. “Daqui a pouco já vêem os pássaros”, diz com um ar confiante. E na verdade, sabedoria ou não, não foi necessário esperar muito tempo para se avistar o primeiro conjunto de Flamingos, que aproveitam a maré baixa para se alimentar nas lamas das margens do rio. O denominado, pelos especialistas na matéria, sapal e que faz com que muitos pássaros, como é o caso da Graça Vermelha, e da Marrequinha, entre outros, escolham o nosso país para visitar.
A paisagem é predominantemente verde. Por trás do rio, consegue-se, por vezes, ver salinas escondidas em enormes campos descobertos. No ar, cheias de vaidade, outras espécies de pássaros vão-se passeando enquanto nas margens, alguns pescadores lançam a cana de pesca na ânsia de conseguir pescar mais lambujinhas. O ambiente é calmo e sossegado. A Marinha de Vasa Sacos, há algum tempo que ficou para trás. O barco dirige-se agora para a Ponta da Erva, sensivelmente a meio do percurso. Falta passar pelos Mouchões do Lombo do Tejo e da Póvoa. Duas pequenas ilhas desabitadas. Ao todo são cerca de 13 000 hectares de extensão, destinada à conservação de espécies. O passeio demora cerca de 4 horas.
2001-11-14