Criado em 1983, esta área protegida relativamente pequena, situada entre os concelhos de Vila Real e Mondim de Basto, é um refúgio fulcral para várias espécies. Abrange 7 200 ha de montanha sulcada por profundas linhas de água, ladeando uma das mais impressionantes montanhas portuguesas, a serra do Marão, que separa o Minho de Trás-os-Montes.
No parque, é possível identificar duas zonas distintas: a área mais alta, de natureza granítica, em torno de Lamas d´Olo, com uma altitude média de 1 000 m, vegetação de alta montanha e paisagem tipicamente transmontana; e a área mais baixa, xistosa, onde se encontra a localidade de Ermelo, a 450 m de altitude e de paisagem verdejante, marcadamente minhota. Distam 8 km em linha recta e a transição de uma para a outra é feita pelo impressionante desnível das quedas de água das Fisgas do Ermelo.
A aldeia de Lamas d´Olo está cercada de carvalhais e lameiros. Ali subsistem alguns bons exemplares de arquitectura popular, com paredes de granito e coberturas de colmo. O rio Olo, que adiante se irá despenhar nas Fisgas, é aqui pouco mais que um ribeiro. Dele partem canais que fazem a chamada rega de lima, forma de irrigação multicentenária que minimiza o desperdício de água e impede que a geada queime os prados. Junto à aldeia de Ermelo, uma das aldeias mais antigas de Portugal, no vale da ribeira de Fervença, a floresta é quase mediterrânica, misturando-se os carvalhos com os sobreiros.
Aldeias onde ainda vive gente
No fresco vale corre ainda tranquilo o rio Olo, afluente do Tâmega. Água pura, como já vai sendo cada vez menos, vai formando lameiros férteis onde pasta o gado maronês, a raça bovina local. É nos sítios onde menos se espera, que vão surgindo estes prados verdejantes e, à sua volta, os pequenos povoados que vivem da agricultura e pastorícia. Há que aproveitar as zonas mais férteis da serra para produzir porque nas zonas mais inóspitas pouco há a fazer. Quem por aí anda, são as cabras bravias do Alvão que pastam pelos matos à procura de alimento.
Homens e mulheres de rugas fundas nos rostos e de mãos e pés calejados vivem em casas tradicionais feitas com materiais da região. São construções pequenas, estas, divididas em duas áreas distintas: no rés-do-chão, a loja para os animais e no primeiro andar, a habitação propriamente dita. Tradicionalmente estes dois espaços estão separados por um chão de madeira, para que o calor dos animais possa aquecer os donos. Engenhosos…
Este tipo de casa está distribuído por nove povoados, tantos quantos fazem parte do Parque Natural. Ermelo, Fervença, Varzigueto, Anta, Arnal, Assureira, Barreiro, Dornelas e Lamas de Olo. Consoante a geologia do local, acompanham as paredes de granito, os telhados de colmo (palha de centeio) e nas habitações de xisto, a cobertura é a lousa. Os primeiros materiais estão associados aos vales e os segundos aos planaltos.
Fisgas do Ermelo
Marcando a transição, entre estas duas áreas, do granito para o xisto, surgem as chamadas Fisgas do Ermelo ex libris do parque. Mas nada melhor do que as fotografias para se ter uma ideia da panorâmica.
Rochas com aproximadamente 475 milhões de anos oferecem-se como bancadas que convergem para o mesmo ponto: as fisgas. Sabe-se que há água por perto. Ouve-se mas ainda não se vê. Mais uns passos à frente e surge um espectacular acidente geológico, onde o rio Olo se estreita até se despenhar num autêntico desfiladeiro formando uma série de cascatas, atingindo a maior cerca de 50 metros. Estão consideradas como as maiores quedas de água da Península Ibérica. O nome advém da forma como o rio se precipita, caindo de uma fenda (sinónimo de fisga) aberta na rocha. Não se espere encontrar um curso de água que irrompe do ponto mais alto do monte. Aqui, o rio Olo, surge literalmente do interior da rocha. A força da água é tal que parece ter escavado uma saída improvisada. O resultado é o que se vê. É impossível não nos sentirmos minúsculos diante de tal grandiosidade. Sem se dar por ela, fica-se ali mais do que o tempo previsto a olhar para o que já se olhou vezes sem conta, mas que acaba sempre por surpreender. Num sítio assim, flora e fauna encontram condições únicas de sobrevivência. Afinal não é por acaso que os amantes da avifauna consideram este um importante posto de observação.
2002-07-30