Vamos tomar um cimbalino?

Um passeio pelos cafés e esplanadas mais antigos do Porto

Espaços de tertúlia no passado, confidentes de desabafos e testemunhas de namoros, às mesas dos mais carismáticos cafés do Porto pode-se viajar no tempo ou… apenas saborear um cimbalino. Ou será que prefere um café de saco?

Com mais ou menos modernices, os cafés mais emblemáticos foram-se adaptando aos novos tempos. Por entre os tons escuros da madeira e ferro, iluminados por majestosos candeeiros e ladeados de espelhos, mantendo o mesmo tipo de clientela ou atraindo novos curiosos, após altos e baixos, obras de restauro, fechos conturbados e adaptações, ressurgiram, alguns como espaços de encanto, outros ainda como agradáveis salas, apenas para se estar com os amigos.

Por entre goles apressados, risos estridentes de duas vendedoras a sorver goles de meia de leite, lê-se um jornal, tecla-se no portátil ou ouve-se uma atinada caneta bic a deslizar na folha em branco de um reformado com ar de poeta. É no meio de tamanha mistura que se sente: estamos num café do Porto.

Do botequim ao café requintado

Foi nos finais do século XIX que a Baixa assistiu à abertura de importantes centros de convívio. Primeiro chamavam-se botequins, situados entre a Praça da Liberdade até ao Carmo e a Batalha, zonas onde estavam também os teatros e salas de cinema. Os nomes foram-se sucedendo: Guichard, Lusitano, Portuense, Suíço, Lisbonense, etc. Mas foi já no século XX que surgiram os cafés desenhados com mestria e ornamentados por artistas. “E vieram, entre a Praça e a Avenida, o Astória e o Baptista, o Guarani, o Avenida, depois Vitória, fantástico, com plantas tropicais, grandes colunas de mármore, lustres e orquestra (parecia o Savoy), o Popular, o Sport, o Central e o Monumental” conta um apaixonado pelo Porto, Helder Pacheco, no livro Porto: auto-retrato de uma cidade.

É por esta altura que surge a Brasileira, (R. Sá da Bandeira, 75), junto ao teatro Sá da Bandeira e que agora é restaurante. Atente-se na fachada e na pala. Alguns até possuíam orquestras, outros tinham imponentes salas de bilhar e durante anos foram pouso predilecto para dias e noites sui generis. “E a Baixa passaria a conviver com ambientes onde música, jogo, dança, tertúlia, conquista, solidão, flirt, negócio, candonga e conspiração se mancomunavam”, acrescenta Pacheco.

Depois dos tempos áureos todos passaram por épocas mais ou menos conturbadas. Ainda hoje o Águia de Ouro aguarda impotente que lhe deitem a mão, ali mesmo ao lado do recuperado Batalha e a espreitar de esguelha para o Teatro Nacional S. João.

Andreia Fernandes Silva 2008-04-02

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