Passear pela casa é recuar dois séculos, numa viagem no tempo onde perpassa o cuidado extremo com que cada objecto é colocado no local exacto. Nota-se, à partida, que não se trata de uma família oitocentista comum. São os van-Zeller, vindos da Holanda, que vivem em Portugal com as comodidades e o luxo máximos para a altura. A casa entra para o património da família pela morte de Vitória Maria Maynard que, por ter professado, vê-se com Pedro van-Zeller como único descendente. Este passa a uitlizar a quinta como local de recreio no período de Abril a Novembro. Pedro van-Zeller é, na altura, um prestigiado comerciante e proprietário no Porto, de uma família que cedo se impôe no panorama industrial nortenho. A viagem desde o Porto era feita por barco, demorando a chegar até à quinta mais de cinco vezes do tempo que actualmente demora o percurso entre Porto e Avintes. A burguesia de então vinha também visitar os van-Zeller, chegando de barco e subindo para um carro de bois para chegar à casa após uma rampa muito acentuada. E na hora da despedida, desengane-se quem pensar que a família acompanhava os visitantes até ao cais do Douro: havia, para o propósito, o «banco da despedida» à saída do portão do bosque, que evitava assim uma longa caminhada até ao rio. Subtilezas de uma família da alta burguesia. A fachada da casa possui várias janelas envidraçadas no primeiro andar e, em baixo, várias portas que dão entrada para os armazéns. Do lado direito, sobressai a capela dedicada a Santo Inácio, onde se rezavam as missas da aldeia sempre que a família estava por lá. De facto, o próprio padre passava a viver na quinta no período de Abril a Novembro, evitando que os van-Zeller se deslocassem à aldeia para assistir à missa.
No centro da casa, uma dupla escadaria vinda do primeiro andar desce até ao pátio, um terreiro ou praça privada com três bicas de água. A poente, um bosque de carvalhos plantados geometricamente; a nascente, um jardim francês de camélias plantadas por Roberto van-Zeller, primeiro presidente da Sociedade Agrícola do Porto.
Álvaro Cúria 2003-02-24