Jangada de pedra
Entre o verde e o azul, este hotel rodeado de pinhal e vegetação está em terra bem firme embora não esconda a atracção pelo mar. Romântico e tranquilo, tem a praia à distância de uma caminhada mas até lá também não faltam bares, lojas e restaurantes para quem prefere o melhor de dois mundos.
Cronologias bíblicas à parte, a verdade é que o Beach Resort Praia Verde parece viver num tempo a.c. e noutro d.c. Antes do calor e depois do calor, entenda-se, ou não fosse este um empreendimento costeiro, que tal como tantos outros na região está sujeito aos humores próprios de cada estação do ano.
Venerado nos dias mais quentes mas tantas vezes esquecido nos restantes, não escapa às contingências da sazonalidade e até o hotel do resort pode dar a conhecer estados de alma diferentes consoante a época em que é visitado. Nós fizemo-lo já às portas do Inverno, por isso o que se perdeu em animação e brilho acabou por ser compensado com tranquilidade e intimismo.
A ver navio(s)
A localização privilegiada, graças ao pinhal envolvente que desce até ao mar, é um dos principais argumentos da unidade, mas nem só de verde se faz este hotel de quatro estrelas. A começar pela longa e esguia fachada negra - a fazer lembrar uma embarcação – onde salta à vista o xisto que domina a zona frontal do edifício. Só depois, já em segundo plano, surge o branco de outra parede enquanto no topo vislumbra-se uma saliência cor de tijolo em forma de vela.
As mesmas cores voltam a marcar presença na recepção do hotel, defronte para uma área comum servida por confortáveis chaises longes e paredes meias com um bar que serve de antecâmara à sala dos pequenos-almoços. Qualquer destes espaços faz-se de contrastes, seja pela conjugação de tons escuros e quentes seja pela alternância entre mobiliário clássico e apontamentos mais modernos, como as pinturas abstractas que emolduram as paredes.
Fica assim lançado o mote para a decoração dos 40 quartos da unidade, também ela assente num estilo clássico e sóbrio q.b mas sem dispensar de novo as cores fortes e penetrantes. O espaço é um autêntico mini-apartamento e divide-se entre o quarto, a casa de banho e sala (com sofá- cama e acesso à internet) que esconde uma kitchnette totalmente equipada por detrás de uma portada de madeira.
No extremo oposto fica a varanda, mais ou menos em forma de meia-lua, com vistas privilegiadas para o mar (e para as villas do resort) se estivermos no primeiro piso, ou para o jardim, caso trate-se do rés-do-chão. A paisagem tinge-se de azul ou verde, consoante os casos, mas sempre entre o maior dos silêncios.
Um passeio até à praia
O espaço exterior do hotel dá a conhecer um recanto natural cercado de pinheiros mansos, flores e vegetação costeira, onde até nem falta um pequeno riacho. É daqui que segue um bonito caminho pedestre que convida os hóspedes a percorrerem os cerca de 800 metros que separam a unidade da praia.
O passeio não demora mais que 10 minutos e vale bem a pena, quanto mais não seja porque a estrada que se faz de carro está em considerável mau estado. E neste caso de pouco serve remendar a via porque o problema são mesmo as raízes dos pinheiros que teimam em crescer por baixo do alcatrão.
A mão do Homem procurou passar despercebida no jardim e limitar a régua e o esquadro ao mínimo, embora seja impossível ficar-se indiferente à tentadora piscina exterior que se esconde por baixo de um socalco do terreno. O resort dispõe ainda de uma outra piscina (junto à praia), bem maior e com um cenário único, mas o que ganha em glamour acaba por perder em privacidade, até porque só a primeira é exclusiva a clientes do hotel.
Vistas largas ou pés na areia?
Apesar de toda a paz e sossego que caracterizam este quatro estrelas, o facto de estar inserido num aldeamento também permite que os hóspedes deixem a sua “bolha” de tranquilidade para procurarem outros serviços complementares ou um pouco mais de animação. Além da já referida piscina panorâmica, o complexo conta também com vários bares, um apoio de praia e uma zona comercial com tabacaria, cabeleireiro, sala de jogos e espaço infantil, entre outras áreas. Mas convém relembrar que muitas delas encerram de Inverno, tornando o cenário algo desolador e totalmente diferente do badalado espaço nocturno que se encontra no Verão.
Nas redondezas também não faltam restaurantes, até porque o hotel limita-se a servir refeições para quem está alojado em regime de meia pensão. A unidade costuma aconselhar os hóspedes a experimentarem O Infante (pertencente ao resort), que se destaca desde logo pelas vistas espectaculares, graças a uma enorme superfície envidraçada que permite observar o oceano a partir de quase todas as mesas.
Entre as especialidades da casa destacam-se o Fondue Neptuno de peixe e marisco, a Mariscada Infante ou com caril, embora haja outras dezenas de hipóteses à escolha do freguês. Nós experimentámos o espadarte com molho de camarão e só não conseguimos comer tudo porque a posta tinha (literalmente) quase meio metro.
Já em plena praia fica o afamado Pézinhos N´Areia (independente do aldeamento) que começou por ser uma pequena banca há mais de 30 anos e é agora um dos mais concorridos restaurantes algarvios. Sinal de que a Praia Verde está mesmo na moda, seja de dia ou de noite, com ou sem N125 entupida.
E acredite que o poder de atracção deste pequeno paraíso junto ao mar não é de agora, como confirma o poço construído pelos romanos em pleno areal. Houvesse já na altura o Suite Hotel Praia Verde e seria lá que eles iriam querer pernoitar…
Nelson Jerónimo Rodrigues 2011-12-20