A capital de Trás-os-Montes
De Lisboa a Bragança já não se demoram as nove horas de viagem da música dos Xutos e Pontapés muito por culpa da nova A23 até à Guarda. Agora apenas cinco horas bastam para chegar à capital transmontana, onde se retemperam as forças da longa viagem e nos preparamos para o magnífico passeio de Montesinho.
De Bragança propriamente dita, se houver disposição aconselha-se a visita ao castelo com o seu museu militar, o Domus Municipalis de origem romana e a Sé, entre outros monumentos e locais de interesse. E para jantar é imperdoável não visitar o Real Feitoria. Restaurante com boa cozinha transmontana e uma carta de vinhos capaz da fazer corar de inveja alguns hotéis de cinco estrelas. Enfim, provavelmente a melhor casa de Trás-os-Montes.
O parque
Já de manhã cedo, parte-se na esperança que o tempo nos seja favorável, embora os nevoeiros sejam comuns por estas bandas.
A caminho de Vinhais utiliza-se a N103, uma estrada segura apesar das inúmeras curvas, excelente para passeios veraneantes, mas também invernantes, especialmente quando a chuva não espreita. Embora o seu traçado não seja muito elevado, de vez em quando há locais que servem como miradouros improvisados.
Por agora, vamos encontrando os primeiros soutos, castanheiros, carvalhos e alguns pinheiros, numa profusão de verdes das mais díspares tonalidades que fazem um conjunto bonito. Pare, abra o vidro e inspire o ar puro. É tonificante e nada melhor para refrescar os pulmões.
Porém, não há só arvoredo para observar. Por entre ramos e folhagens os olhos mais atentos poderão descortinar algumas das cerca de 150 espécies de aves existentes nesta reserva natural. São tordos, petinhas e as bonitas alvéolas amarelas, de torso colorido. E claro, também por aqui há os sempre enigmáticos mochos e corujas, embora a probabilidade de os ver de dia seja reduzida. Quiçá os surpreenda de noite, atraído pelo seu suave murmúrio que ecoa pelas montanhas.
Poucos quilómetros depois de Gondesende atravessará o vale do rio Tuela que separa as serras de Montesinho e da Coroa. Adiante, um pequeno desvio para Quintanela, apenas para conhecer a Nogueira de Quintanela. É uma árvore com um tronco tão grosso que caso se fizesse um buraco no meio, com certeza era possível cruzarem-se simultaneamente dois adultos a andar de bicicleta. Não é tempo perdido, não senhor. A seguir, prossegue-se até Vinhais, que segundo os entendidos é a terra da verdadeira alheira. Mas isso são estórias de Trás-os-Montes e fica para outro artigo.
N'Dalo Rocha 2004-02-03