Roteiro de Braga

Da porta da cidade às portas do céu

Não é por acaso que lhe chamam a Roma portuguesa e a cidade dos arcebispos mas Braga é muito mais do que fé e religião. A capital do Minho não se deixou levar por maus caminhos mas cresceu e modernizou-se enquanto juntava a devoção de sempre às tentações dos nossos tempos. Se o Santo Graal não andar por lá, o elixir da juventude há de estar com certeza. E o céu pode esperar…

Se há cidade portuguesa que anda todos os dias nas bocas do povo, a capital do Minho é certamente uma delas. “Mais velho que a Sé de Braga”, “ver Braga por um canudo” ou “és como o sapateiro de Braga” são mais do que frases feitas e não deixam de atestar a importância da localidade, já para não falar da romana Bracara Augusta ou dos solenes epítetos de “cidade dos arcebispos” ou “capital do barroco”.

Mas, afinal, o que tem Braga de tão especial? Fomos à procura da resposta e começámos pelo incontornável Arco da Porta Aberta, antiga entrada na urbe que agora serve de cartão de visita aos forasteiros. As ruas D. Diogo de Sousa e do Souto (interditas ao trânsito automóvel) convidam-nos a descobrir a pé o centro histórico ou não fosse Braga uma das cidades portuguesas com mais caminhos pedonais. O primeiro de muitos superlativos que estas paragens nos irão sugerir ao longo de todo o percurso.

Assim na terra como no céu

Mal passamos o Arco da Porta Nova e logo damos de caras com a Igreja da Misericórdia, uma entre dezenas que iremos encontrar pelo caminho. Junto a ela, um discreto acesso para os claustros da Sé de Braga desafia-nos a descobrir de imediato o ex-líbris da cidade mas conseguimos resistir à tentação (vale a pena esperar pela entrada principal) e seguimos pela rua do Souto até ao Largo do Paço. Este serviu de morada ao paço episcopal (hoje é sede da Universidade do Minho), que se prolongava desde o Jardim de Santa Bárbara - o mais bonito, florido e perfumado da cidade - até à Praça do Município onde saltam à vista o edifício barroco da Câmara Municipal e o Palácio de D. José de Bragança.

Já que fizemos o desvio aproveitamos para passar pelo Palácio e Museu dos Biscaínhos (na rua com o mesmo nome) e pela Praça Conde de Agrolongo. É lá que fica o GNRation, projeto emblemático da Capital Europeia da Juventude 2012 que transformou o antigo quartel da GNR num espaço aberto às novas artes e tendências. Salas de exposições e concertos, áreas de trabalho e jardins verticais são terreno propício ao germinar de novas tendências e espelho da renovação (quase revolução) cultural e geracional que a cidade atravessa.

De volta à rua do Souto, chegamos num abrir e fechar de olhos ao Largo Barão de São Martinho e ao café A Brasileira, cuja fama só mede forças com os vizinhos Astória ou Vianna, já em plena Praça da República. Principal ponto de encontro da cidade (desde a construção da Arcada no século XVIII) tem nas costas a Torre de Menagem (único vestígio do antigo castelo medieval) e em frente a Avenida Central onde também não faltam motivos de interesse, como a Basílica dos Congregados, a Casa Museu Nogueira da Silva ou a Livraria Centésima Página. Se Braga fosse um livro, seria daqueles que não conseguimos parar de ler, sempre à espera do que nos espera na página seguinte. Por falar nisso, o Theatro Circo já espreita na próxima esquina.

Mais velhos que a Sé de Braga? Só os vestígios romanos

A colorida Avenida da Liberdade, quase toda coberta de canteiros de flores, leva-nos até à principal sala de espetáculos da cidade, o Theatro Circo, que em 2015 dobrou um século de existência. Dali seguimos até ao Largo Carlos Amarante, onde fica a igreja de Santa Cruz, com a sua imponente fachada barroca, toda em granito, onde estão dois discretos mas célebres galos. Reza a lenda que, quem os conseguir vislumbrar, não terá dificuldade em encontrar um(a) noivo(a) para casar.

Depois desta vistosa igreja vale a pela procurar a discreta Capela da Árvore da Vida, situada no edifício do Seminário (Largo de São Tiago) toda construída em madeira e sem recurso a qualquer prego. Um símbolo de modernidade a dois passos da domus romana (em ruínas) que se revela no claustro do complexo religioso, evocando os tempos de Bracara Augusta, antiga capital de um vasto território (a Galécia) que se estendia desde a Galiza até ao Norte de Portugal. Já nas imediações da Sé encontramos mais um exemplo da nova dinâmica da cidade, a loja de produtos vintage Vá de Retro, com autênticas preciosidades do século passado. Noutros tempos, a religiosa e conservadora Braga não iria achar muita piada ao nome mas hoje gaba-lhe a criatividade e audácia.

A visita à Sé de Braga, a mais antiga do país e anterior à própria fundação da nacionalidade, é o ponto final perfeito para qualquer passeio pelo centro histórico. Na fachada sobressai a mistura de estilos (do românico ao gótico, passando pelo manuelino e pelo barroco) enquanto lá dentro destacam-se o retábulo dos bispos de Braga que governaram a cidade até 1792 e dois orgãos barrocos com milhares de tubos em cobre. Ainda hoje os arautos de Deus ecoam pela Sé.

Ver Braga por um canudo às portas do céu

Turista que se preze não pode deixar de passar pelos Santuários do Sameiro e do Bom Jesus. Começamos pelo primeiro, principal centro do culto mariano em Portugal logo a seguir a Fátima e autêntica varanda sobre a região já que, do alto dos seus 572 metros de altitude, chega a avistar-se boa parte do Minho mas também o Porto e a Galiza.

A poucos quilómetros fica o Bom Jesus do Monte, facilmente reconhecível pala fachada barroca e pela monumental escadaria (248 degraus) que leva até ao templo. À volta, uma mata verdejante com grutas, lagos e vários hotéis convida os visitantes à descoberta, sem esquecer o icónico telescópio que permite “ver Braga por um canudo”. Por certo, há de avistar um recanto, uma igreja ou um novo edifício que escapou a este roteiro. Mas o fascínio de Braga também passa por aí e até o escritor e filósofo basco Miguel Unamuno confirma isso mesmo: “Que encanto é perder-se aqui e voltar ao mesmo sítio!” 
 

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