Da pequena vila ao grande lago
Rodeado de serras, serpenteado por rios e ribeiras e debruçado para a barragem da Aguieira, o concelho de Mortágua oferece uma diversidade de paisagens que este percurso rodoviário dá a conhecer numa manhã ou numa tarde. Depois da vila, o passeio faz-se sobretudo à volta do grande lago, entre aldeias desconhecidas e um resort que anda nas bocas do mundo. Venha descobrir o sossego, a paz e a beleza que o espelho de água reflete.
A Praça do Município, no coração de Mortágua, marca o quilómetro zero da Rota da Aguieira mas a descoberta da vila fica guardada para o regresso já que este percurso circular há de terminar precisamente no mesmo local. Sendo assim, seguimos sem mais demoras rumo à EN 228 (com passagem pela aldeia de Barril) e logo depois ao IP3 que nos deixa a menos de 100 metros do pontão da barragem da Aguieira. Inaugurada em 1982, é uma enorme estrutura em betão (tem 89 metros de altura e 400 metros de largura) que aproveita as águas do Mondego para produzir eletricidade e regar as terras agrícolas da região. No nosso caso, serve também de miradouro privilegiado para o espelho de água e para a floresta que o rodeia, bem como para o próximo destino deste passeio, o Montebelo Aguieira Lake Resort & SPA.
A partir do resort a perspetiva é igualmente arrebatadora, mas ao cenário juntam-se agora um sem número de serviços que garantem animação para toda a família em qualquer época do ano. Além dos apartamentos e villas, o aldeamento conta igualmente com várias piscinas (interiores e exteriores), um SPA e um restaurante panorâmico, isto para não falar dos muitos espaços dedicados exclusivamente às crianças. Já os mais desportistas e aventureiros podem aproveitar as atividades náuticas à disposição na marina, como canoagem, mergulho ou windsurf. Provavelmente irão partilhar as águas da barragem com alguns dos muitos atletas olímpicos de canoagem que costumam treinar neste local.
Mergulhos na água e na paisagem
Conhecido o resort, voltamos ao IP3 (sentido Coimbra) para fazermos um desvio até à aldeia de Almaça, sobranceira à ribeira de Mortágua e ao Mondego que, depois da barragem, volta a ganhar vida própria. Outrora foi terra de pescadores e lavadeiras, além de ponto de passagem das barcas serranas que desciam o rio até Coimbra. Hoje faz da terra o principal sustento mas continua orgulhosa do passado, como atesta a bela igreja paroquial, construída no início do século XIX e devota de Santo Isidro. Nas redondezas também vale a pena admirar o cenário a partir de um miradouro improvisado com vistas para a ribeira.
Regressando ao IP3 e à EN 226, novamente no sentido de Mortágua, cortamos depois para Almacinha, outra pequena povoação à beira da albufeira. A partir daqui há um estradão em terra batida, sempre junto à água, que há de terminar na aldeia de Falgaroso do Maio. O piso não está nas melhores condições, avisam-nos os habitantes locais, por isso se não tiver um todo o terreno o melhor é dar a volta pela estrada de alcatrão. Outra alternativa será fazer o caminho a pé, passando por pequenas praias e recônditos lugares mas, nesse caso, terá sempre de voltar para trás para buscar o carro. Seja qual for o percurso escolhido não deixe de passar pelo sopé da aldeia, quase a tocar a água, onde um pequeno ancoradouro convida a mergulhos refrescantes.
Natureza, fé e património
Depois de Folgaroso do Maio seguimos para a soalheira e verdejante aldeia de Freixe (via EN228), batizada com o nome desta árvore e cujo passado remonta, pelo menos, ao século XII. A partir daqui o caminho é sempre a subir, por uma estrada estreita e rodeada de eucaliptos que nos leva até ao Santuário do Senhor do Mundo. Além de espaço de fé, como atestam as três capelas (dedicadas ao Senhor do Mundo, a São Pedro e a Nossa Senhora do Desterro) este local altaneiro também é um bom miradouro para a região. Desta vez a barragem não se vê, mas em contrapartida alcança-se o casario de Mortágua, em primeiro plano, e as serranias à volta, no horizonte.
É precisamente para a vila que seguimos, onde conhecemos alguns dos locais mais emblemáticos da localidade, como a Igreja Matriz, o pelourinho, a Sociedade Agrícola de Mortágua e o Parque Verde da Ponte, pontos de passagem obrigatória de outro percurso, a Rota de Mortágua, dedicado sobretudo ao núcleo urbano. Para mais passeios também não faltam boas propostas, como a Rota da Irmânia, a Rota do xisto ou o Percurso pedestre das quedas de água das paredes. De carro ou a pé, Mortágua tem muito para descobrir.
Nelson Jerónimo Rodrigues 2016-07-06