Restaurante O Ganhão - Amadora

Um suave aroma alentejano

Num ápice, chegam-nos à mesa deliciosos petiscos para saciar o apetite como a salada de orelha, farinheira frita ou pimentos avinagrados, aos quais se seguem as iguarias da refeição. A carta tem várias opções, mas vir ao Ganhão e não provar o magnífico ensopado de borrego ou as migas com lombo de porco preto, quase dá pena.

O proprietário, António Simões é um perfeccionista naquilo que faz e como tal, apesar do seu background não ser da restauração, impressiona pelo cuidado com que trata de tudo, especialmente dos vinhos. É assombroso como se preocupa com a conservação e a temperatura. E para não se equivocar, nunca prescinde do seu termómetro portátil de modo a assegurar que o vinho seja servido o mais próximo possível da temperatura ideal. Detalhes importantíssimos que tornam qualquer refeição bem mais agradável.

De espírito inquieto, achou que só o restaurante com a garrafeira não seria suficiente para tirar partido do espaço, por isso decidiu enveredar por outras acções.

No primeiro andar, onde encontramos a mercearia fina, António Simões decidiu dinamizar o espaço, organizando regularmente jantares vínicos. São convívios com uma forte componente pedagógica onde existe sempre um formador e os comensais aprendem a provar vinhos ou a combinar vinhos com queijos, por exemplo.

Até ao presente, as coisas têm-lhe corrido bem, e entusiasmado, decidiu estender o leque aos vinagres. Que não tem nada que ver com o ácido acético que compramos nos supermercados, ao qual chamamos vinagre. Falamos de deliciosos produtos aromáticos combinados com mel, oregãos ou maçã, que o grande público ainda desconhece.

Ao longo de dezassete anos a percorrer o Alentejo como delegado de propaganda médica, António Simões aproveitou para se tornar num verdadeiro gourmet da cozinha do sul.

Por entre as longas jornadas empreendidas na planície dourada, foi apurando o paladar pelos sabores alentejanos e dos bons vinhos, até que certo dia, cansado de vender tanto remédio, tomou a decisão de mudar de actividade, abrindo o seu espaço, ao qual chamou Ganhão.

Assentou arraiais num bonito edifício setecentista de dois andares, lá para os lados da Venda Nova, entre as portas de Benfica e a Amadora. O nome foi apropriado, pois Ganhão significa aquele que vive do seu trabalho, o que se enquadra bem na filosofia do proprietário.

Ao entrarmos, António Simões acolhe-nos com um “bem-vindos à minha tasca”. É irónico, porque esta casa é tudo menos uma tasca. Aqui vendem-se dos melhores vinhos alentejanos, à carta ou a preço de garrafeira para quem pretender levar alguns exemplares para casa. Depois, também há deliciosos produtos como flor de sal, ervas aromáticas ou vinagres de mel adquiridos na mercearia fina, como obviamente a esmerada cozinha tradicional alentejana.

Na sala do rés-do-chão, onde encontramos o restaurante, as mesas são amplas quanto baste para que os comensais se instalem confortavelmente. Na decoração das paredes sobressaem os capotes alentejanos, os tapetes de Arraiolos e também os quadros. Frequentemente, por aqui realizam-se exposições de pintura, ficando as obras expostas por determinado período de tempo até serem vendidos ou rendidas por outras.

A completar o mobiliário, está o grande armário da garrafeira que chama a atenção por exibir orgulhosamente vinhos de respeito como o Duas Quintas ou a muito cobiçada caixinha das três garrafas de Pêra Manca.

Para criar ainda mais ambiente, ecoam os cantares alentejanos que dão alma à casa. Só faltam as talhas de barro gigantes para afirmarmos que estamos em Serpa.

N'Dalo Rocha 2004-07-13

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