Restaurante Marquês da Sé - Lisboa

Um ecléctico restaurante com fados

Mais do que uma casa de espectáculos, podemos afirmar que o conceito do Marquês da Sé é o de um restaurante onde se canta e ouve o Fado, devido à sua aprumada qualidade.

No Largo do Marquês do Lavradio apenas sobressai uma discreta porta de entrada com uma placa dourada onde se lê “restaurante” e na ombreira, o placard brilhante com a palavra Fado. Apenas. Não há vitrines com artistas de vestidos brilhantes e lantejoulas com os nomes inscritos em parangonas anunciando as estrelas da companhia.

Entramos e descemos as suaves escadas de passadeira vermelha que nos conduzem até ao bar. À esquerda, a janela com gradeamento pela qual espreitamos de soslaio para o salão. No bar, os aperitivos para nos ajudarem a fazer o compasso de espera nos dias em que a casa está mais cheia.

Pausadamente, vamos observando o salão com mais atenção e verificamos que a decoração prima pela discrição. Não há motivos típicos como guitarras ou xailes pretos. Em vez disso, pratos de porcelana, espelhos de moldura adornada, alguns quadros e elegantes candelabros de ferro. Chão de laje polida e mesas discretas, com toalhas cremes pautam o nível da casa. A iluminação é toda ela feita por holofotes que projectam a luz para os tectos abobadados de tijolo burro, sustentados por sólidas colunas de pedra.

Deixando a observação para mais tarde, é tempo de mergulharmos na carta para descobrirmos algumas das mais deliciosas receitas da cozinha tradicional portuguesa. O bacalhau espiritual, a cataplana de tamboril, os lombinhos de porco preto ou o entrecosto com migas, são apenas algumas das especialidades que a casa tem para oferecer.

À parte destas, ainda há as sugestões do chefe, como as deliciosas pataniscas de bacalhau com arroz de feijão, também elas um jantar memorável. Claro está, convém não descurar o acompanhamento, e a carta de vinhos oferece-nos boas garrafeiras do Douro, Beiras e Alentejo.

À medida que nos distraímos com as iguarias, vão chegando os primeiros fadistas, lá por volta das nove e meia. Acompanhados à viola e por uma guitarra portuguesa, colocam-se no meio da casa, por entre as colunas. Por vezes quem está sentado na diagonal poderá ter alguma dificuldade em ver, mas o problema é resolvido porque o artista se desloca um pouco, mostrando-se ao público.

Resumindo, o serviço é esmerado e justifica os cerca de 40 € em média que se paga, tendo em linha de conta que não há taxas de espectáculo ou qualquer outro extra. Paga-se apenas o que se come. É conveniente fazer reserva de mesa, especialmente para grupos. Bom jantar.

 

N'Dalo Rocha 2003-10-14

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