Restaurante Casa d`Irene – Almeida

A tradição servida na sala de estar

Situado na aldeia raiana de Malpartida, concelho de Almeida, este restaurante acolhedor leva o melhor da gastronomia tradicional da região. Agradeça-se à D. Irene, uma mulher da terra que dá o corpo e a alma pela sua “casinha” e recebe os clientes como se fossem da família. Com mesa farta e prato cheio, à boa maneira beirã.

Qualquer semelhança com o filme Gaiola Dourada não é mera coincidência. Também a D. Irene andou por terras de França à procura de melhor vida e, a certa altura, teve de optar entre a vida de emigrante e o regresso a casa. O chamamento das origens falou mais alto e ainda bem porque esta história também teve final feliz. Em boa parte graças ao sucesso da casa que abriu há quase 10 anos em Malpartida, pequena povoação a dois passos de Almeida que tornou-se paragem obrigatória no roteiro gastronómico da região.

Quem chega ao largo principal da aldeia facilmente encontra o restaurante mas depois convém escolher a entrada certa porque este está dividido em dois espaços totalmente opostos. Se para lá da entada principal está uma sala simples e banal que serve de café/restaurante, já o acesso pelo quintal leva até uma “casinha” (como gosta de dizer a D. Irene) que quase parece um museu etnográfico. Se tiver de optar, escolha esta área que é bem mais rústica e castiça.

Pratos (na mesa e nas paredes) à moda antiga

Uma pequena zona de estar serve de cartão-de-visita à casa e de antecâmara à sala de refeições, o mais emblemático espaço do restaurante. As paredes, umas de granito, outras pintadas de branco, estão emolduradas com mil e um objetos antigos, como alfaias agrícolas, um tabuleiro do pão, pratos herdados há várias gerações e outras peças de olaria.

Ao centro, uma lareira compõe a decoração (já não é acesa) e do mobiliário, quase todo em madeira, destaca-se a cantareira, móvel típico da região que guarda alguma loiça decorativa e outra para uso da casa.

A um canto da sala fica a cozinha (aberta) onde a D. Irene e mais duas ou três auxiliares trabalham afincadamente e raramente têm mãos a medir. Mesmo assim, qualquer cliente é bem-vindo ao local, seja para espreitar os cozinhados ou aprender uns truques de culinária. Mas atenção que esta gastronomia à moda antiga, aparentemente simples e sem invenções, tem muito que se lhe diga e é bem apuradinha. A prova segue dentro de momentos.

Ricos pratos e batatas à pobre

Além de coordenar a cozinha, também é a própria D. Irene a servir a mesa, apresentando a preceito cada uma das iguarias que traz em pratinhos ou travessas. Nas entradas destacam-se os muitos tipos de enchidos, como os buchos cortados aos bocadinhos (na época das matanças), a morcela doce com marmelo e maçã reineta e as favas guisadas com entrecosto.

Quanto aos pratos principais, há dois mais afamados: o polvo e o bacalhau no forno. Mas porquê duas “especialidades de mar” numa terra tão longe do oceano? A explicação e inspiração, diz-nos D. Irene, remonta aos tempos em que não havia eletricidade naquelas paragens e tanto o bacalhau com o polvo já chegavam salgados, prontos a cozinhar. Para os apreciadores da carne também não faltam boas opções, como o cabrito grelhado com migas de grelos ou o cozido à portuguesa. Como acompanhamento, vale a pena experimentar as batatas à pobre, uma receita que a D. Irene aprendeu com a mãe quando, à falta de mais batatas, se juntavam as ramas cozidas dos nabos.

Já na carta de vinhos destacam-se os néctares da região, como os Beyra, o Quinta do Cardo ou Quinta da Caldeirinha, produzidos no concelho vizinho de Figueira de Castelo Rodrigo. Por fim, também as sobremesas remetem para outros tempos, com o arroz doce, o leite-creme, as farófias e o doce de maçã a fazerem-nos lembrar os eternos sabores das avós. Tudo pela mão mágica da D. Irene que, em boa hora, trocou a sua “gaiola dourada” francesa por uma casa de granito na aldeia natal de Malpartida.

Nelson Rodrigues 2013-10-16

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