Restaurante Bem-me-quer – Lisboa

O último a sair acende a luz

Mais do que uma diversão, mais do que uma forma de apurar os sentidos, comer às escuras pode servir de sensibilização para as dificuldades dos invisuais. A experiência tem lugar semanalmente no Restaurante Bem-me-quer, em Lisboa.

A escriba alerta os comensais para os riscos que a era do entretenimento representa para a comida sem malabarismos. Depois de ver o Avatar em 3D, andar sobre brasas, fazer rafting e paintball, uma vez degustadas as espumas fumegantes e gelificações futuristas da nouvelle cuisine, a perspectiva de comer num estabelecimento normal pode começar a parecer pouco excitante.

Neste contexto, a ideia de comer às escuras pode ser encarada como mais uma forma circense de atrair clientes em busca de adrenalina. A não ser, claro, que se mude a perspectiva. A intenção do Bem-me-quer é fazer os clientes experimentarem uma refeição como um invisual. Um autêntico exercício lúdico de apuramento dos sentidos, mas sobretudo uma forma de fazer com que a solidariedade passe de conceito mental a algo que se sente no corpo.

Vamos por partes. Primeiro entramos para uma antecâmara. À nossa frente está uma cortina preta. Explicam-nos que atrás tem uma sala completamente escura com as mesas postas. Seremos conduzidos pela Ana Serôdio que é invisual e vai servir-nos um menu de degustação com entrada, três sopas, três pratos e três sobremesas. Há que desligar os telemóveis. Aos seus lugares, a refeição vai começar.

Jantar com os sentidos

Chegar à mesa é a primeira aventura. Tacteia-se a cadeira, sente-se o posicionamento dos objectos, tenta fixar-se o lugar do copo com gestos cautelosos. Quando os pratos chegam começa a inevitável adivinha dos conteúdos: tem ervilhas e nozes. Não, são brócolos e avelãs. E isto serão uvas ou romãs? Aceitam-se apostas. Respigam-se as memórias dos sabores. Sem a visão podem ser surpreendentemente difíceis de identificar mesmo quando são familiares.

Bárbara Bettencourt

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