No chamado Rossio da vila, o restaurante Azeitão não tem razões para se queixar dos vizinhos. A Fonte dos Pasmados onde, segundo diz a lenda, quem dela beber para sempre ficará ligado à vila, a Igreja de São Lourenço do século XVI e as caves José Maria da Fonseca, instaladas num bonito edifício oitocentista.
A lamentar apenas o estado de degradação do Palácio dos Duques de Aveiro, cuja fachada ainda deixa adivinhar a importância e monumentalidade que já teve. Fica-nos o cheiro à atmosfera aristocrática que noutros tempos caracterizou Azeitão. Depois ou antes da visita a Azeitão-vila, o intervalo do passeio pode ser no Azeitão-restaurante para recordar alguns sabores da cozinha típica portuguesa. Como o gaspacho, a açorda de coentros com ovo escalfado, a casca de batata frita com molho de natas e mais do que evidente, o queijo de Azeitão feito com leite de ovelha e um saber antigo. Das Especialidades, onde se encontra o bacalhau com azeite e broa, às Comidas do Mar como a consistente sopa de peixe (uma refeição por si só) e as simples pataniscas com arroz de feijão... sente-lhe o cheiro? Do talho há picanha tropical, bife com molho de Moscatel, entrecosto com migas e mais oito sugestões que ajudam à festa. A Insustentável Leveza é conseguida pelas cinco qualidades de saladas. Das Coisas Boas que adoçam a refeição, as mousses, o bolo de chocolate com framboesa e a bela da torta de Azeitão. Nem poderia ser de outra forma. Todos se recordarão da riqueza que esta região ainda representa no que ao vinho diz respeito. A carta é original e está baseada na ficha do produto com preços recomendados. Aroma, cor, paladar e ph são as informações fornecidas sobre os vinhos de Azeitão, porque só estes têm entrada nesta casa. Quatro caves estão representadas. José Maria da Fonseca, J.P.Vinhos, Quinta da Cachamoa e Casal do Tojo. Os apreciadores sabem do que falamos.
E agora que já estamos compostos, façamos silêncio para escutar o fado. Todas as quartas-feiras, quando o manto da escuridão invadir Azeitão, vozes jovens e pouco conhecidas, outras mais sonantes e sobejamente reconhecidas, têm lugar para dar voz ao sentimento. Ah pois, não é só em Lisboa que se canta a canção da saudade. Nesta altura a decoração deixa de ser a protagonista e os nossos olhos deixam de estar postos no espantalho da entrada e nos utensílios campestres esbanjados pela casa. E no entanto, com ou sem fado, a atmosfera é descontraída e requintada.
Paula Oliveira Silva 2004-04-13