Na encruzilhada de ruas de Linda-a-Velha existe um restaurante tradicional português de “corpo e alma” que completou o primeiro aniversário no primeiro de Janeiro deste ano. Para além da cozinha, o destaque também vai para os vinhos, todos eles néctares nacionais. A qualidade que apresenta e os preços de amigo que pratica são um bom cartão de visita.
Portugal no prato
Fotos a preto e branco de locais, personagens e momentos históricos nacionais povoam as paredes do restaurante. Ao fundo são os azulejos cor de vinho da reputada fábrica Viúva Lamego que saltam à vista. Um vidro separa a cozinha da sala de refeição porque afinal esta casa é um livro aberto.
O pequeno sistema de refrigeração à entrada convida à escolha dos frescos vindos do mar. Pode ser o salmonete, a dourada ou o robalo pescados à linha que depois vão a passar pelas brasas.
Porém, da grelha também pode vir a carne. E neste capítulo só há duas hipóteses, de igual qualidade: o porco bísaro e a maronesa de Trás-os-Montes. Com esta matéria-prima não admira que os nacos (carne alta) sejam tão apreciados.
As entradas mudam semanalmente e poderão ser um queijo, azeitonas temperadas, manteiga de alho caseira e cenoura à algarvia para dar vários exemplos.
A carta (com cerca de 30 pratos) muda consoante a estação, sendo que todos os dias ao almoço mais duas sugestões são acrescentadas à lista. Esta quinta-feira são os pastéis de bacalhau com arroz de tomate e o cozido à portuguesa com enchidos artesanais da Beira Alta. Para experimentar o cabritinho assado no forno com batatas e arroz de miúdos terá que vir ao Alma Lusa no domingo.
Os que vêm com tempo não perdem se pedirem o menu de degustação composto por 7 pratos (€37 por duas pessoas). Em comum com os restantes pratos do menu está o cuidado visual com a apresentação.
As pataniscas de polvo acompanhadas arroz de coentros servido em barro escuro de Bisalhães são uma combinação de sucesso mas as pataniscas de bacalhau com arroz de feijão não o são menos. A alheira vem acompanhada de grelos salteados mas aqui dispensa o acompanhamento da tradição, a batata cozida regada com azeite passando a aparecer com a frita. É que os hábitos já estão a mudar a nossa história gastronómica.
Nas sobremesas há o leite-creme queimado ao momento, a mousse de chocolate negro ou limão, o arroz doce, para além dos conventuais com grande incidência do Alentejo. Só de ler já abre o apetite.
Vinho com todos
Carlos Borges, proprietário do Alma Lusa, e ex-gestor sempre teve o sonho de ter um restaurante que homenageasse o que é tradicional português e os vinhos estão naturalmente na mira desta filosofia.
Convém dizer que é possível cometer algumas excentricidades mas isso já é culpa da carta de vinhos que tanto comporta os consagrados e algumas raridades como a Barca Velha de 64 (€500), como boas oportunidades mensais de degustação de vinho a copo, tanto branco como tinto.
Geralmente são marcas não muito conhecidas e que por isso são alvo de curiosidade. Este mês é a vez do branco Companhia das Lezírias (Ribatejo) feito exclusivamente da casta Fernão Pires. No capítulo dos tintos o Bajancas 2004 do Douro leva o destaque.
A carta, com 150 rótulos está organizada pelo valor crescente, o que permite um acesso fácil à informação que muitas vezes mais importa... E para dar descanso à nossa alma lusa mesmo que optemos por uma selecção de vinho a copo, a refeição completa pode não chegar aos 20 euros. A cereja no topo do bolo é servida às quartas-feiras, dia de desconto (de 15 a 20% ) de vinhos.
Paula Oliveira Silva 2007-02-14