Numa propriedade cuja origem se perde no tempo, os mergulhos na piscina têm vista para o horizonte serrano. A um passo da via romana, é curto o caminho para o coração da Natureza. Descanso ou aventura, a escolha é sua, nos arredores de Viseu, entre paredes de granito, bosques e ligações profundas à terra.
Qualquer que seja a origem, a estrada que conduz à Quinta de Moçâmedes, na aldeia do concelho de Vouzela que lhe dá o nome, é vigiada, de longe, por uma espinha de montanhas despidas, onde o Inverno deposita neve, se arrefecer como em 2008 uma mão cheia de noites.
Estamos na Primavera e em vez de cumes brancos o sol tímido da manhã ilumina castanheiros floridos e o verde brilhante dos cipestres, enquanto avançamos por pinhais e áreas de cultivo, com moradias em pedra granítica fugindo a 60 quilómetros por hora de ambas as bermas.
Aborrecido? Aqui trata-se de outra coisa – ler devagar, descobrir a ligação profunda à terra, apreciar o silêncio e identificar as memórias. Claro que possibilidades não faltam. Caminhadas, escaladas, passeios todo-o-terreno, museus, termas em S. Pedro do Sul, compras em Viseu. Mas a casa medieval que nos oferece alojamento convida a não ter pressa. Em breve perceberemos porquê.
Ricas memórias
Quem nos recebe, 46 anos, é António Borges – contador de histórias, anarca viajado, pintor e designer, futuro candidato independente à Câmara Municipal de Carregal do Sal, pai de Vicente Viriato e de Cecília, casado com Margareth Lacerda, brasileira do Rio de Janeiro cuja família, toda de origem portuguesa, detém a Quinta de Moçâmedes há várias gerações.
Ao fundo da propriedade de dois hectares, situada a 500 metros de altitude, jaz o esqueleto azul do Citroën 2 Cavalos de matrícula francesa que guiou António Borges aos cantos da Europa. Enquanto o tabaco queima no cachimbo, a conversa inicia-se. “Esta aldeia já foi muito rica, sabe, por causa do volfrâmio". Vamos ao café do senhor Luís. No percurso pisamos o traçado do antigo caminho de ferro, que levava, para o litoral, volfrâmio e estanho das explorações de Barrosa do Cume e da Bajanca, abandonadas com o fim da segunda grande guerra.
Moçâmedes é um topónimo de origem árabe e significado obscuro. Diz a lenda que ali se mediam as maçãs no tempo dos mouros. Terra de castros e figuras nobres da História portuguesa, é ladeada por uma estrada romana, ainda explorável a pé.
Cláudio Garcia 2009-04-22