Quinta de Lemos - Viseu

Vinhos e ousadias no Dão

O regresso às origens de um empresário beirão com sucesso mundial fez nascer esta quinta que, tal como ele, começou do zero e tornou-se um símbolo da excelência portuguesa. Vinhos premiados e um arrojado edifício com guesthouse exclusiva e restaurante de luxo compõem um elogio sentido à família, ao interior do país e às suas gentes. Às portas de Viseu, entre dois rios e quatro serras, há um lugar surpreendente onde os sabores são tão grandiosos como a arquitetura.    

A pequena vila de Silgueiros, no concelho de Viseu, é um sítio improvável para figurar entre os mais importantes prémios internacionais de vinhos e de arquitetura mas a nostalgia de Celso de Lemos tornou-o possível. Este filho da região ganhou fama e proveito na Bélgica com os têxteis Abyss e Habidecor (Obama, Putin e Ronaldo estão os fãs dos atoalhados e roupa de cama Made In Portugal) mas nunca esqueceu as raízes e decidiu fazer destas paragens o cartão-de-visita dos seus artigos, que o Wall Street Journal considerou serem os melhores do mundo.

A ideia era receber os amigos e os clientes num local que representasse a identidade das marcas da família mas que, ao mesmo tempo, desse a conhecer ao mundo os produtos de excelência do Dão. O vinho é seguramente um deles por isso, em 1998, comprou um terreno esquecido, chamou-lhe Quinta de Lemos, plantou 25 hectares de vinha (metade da propriedade) com algumas castas da região, caso da Touriga Nacional. Seis anos depois, produz anualmente 100 mil garrafas de sete referências de vinho, as mais importantes com nomes das mulheres da família, como Dona Santana (a avó de Celso de Lemos) ou Dona Georgina (a mãe), cuja colheita de 2005 deu origem (segundo o International Wine Challengea) a um dos cinco melhores novos vinhos do mundo. 

Mas o que trouxe mais visibilidade à Quinta de Lemos foi mesmo o vanguardista espaço que, a partir de 2013, passou a coroar a propriedade. Considerado um dos edifícios do ano pela ArchDaily (um dos mais importantes sites mundiais de arquitetura) é um misto de linhas ondulantes e arestas pronunciadas que serpenteiam entre as rochas do terreno. É ele que serve de morada ao show room da Abyss e da Habidecor, a uma luxuosa guesthouse (exclusiva para os convidados da família) e ao afamado restaurante Mesa de Lemos. Uma ida a este templo gastronómico será por isso um bom pretexto para conhecer a quinta (não há visitas guiadas) mas, regra geral, as portas estão sempre abertas e até o enólogo Hugo Chaves já se habituou a servir de cicerone aos turistas. Se (como nós) tiver a sorte de o encontrar há-de perceber por que razão os vinhos desta casa têm uma alma especial…

Entre cubas, barricas e garrafas

A Quinta de Lemos também é um sítio de contrastes. Se no topo do terreno está o novo e arrojado edifício que trouxe a fama à propriedade, junto à entrada encontramos outro mais sóbrio e antigo que lhe dá o proveito: a adega. É por lá que começa a nossa visita, ainda dominada pelo cheiro a vinho tão característico da época de vindimas, sobretudo na sala de cubas que recebe as uvas e serve de palco privilegiado à vinificação.

Este espaço prolonga-se para um piso inferior, onde também fica a sala de estágio com as suas centenas de barricas dispostas em corredores, escudadas por elegantes colunas de cimento e mantidas escrupulosamente à mesma temperatura: 15 graus. Em frente está outra sala surpreendente, utilizada como armazém das garrafas, onde salta à vista uma grande pedra em granito que se prolonga até à superfície. Em tempos também serviu de anfitriã a concertos, exposições e provas de vinhos mas esse papel pertence agora a uma sala envidraçada no piso superior e, sobretudo, ao novo edifício que todos querem conhecer.   

Antes disso, fazemos ainda uma visita à área mais industrial da adega, onde se processa a rotulagem e embalamento das garrafas e, por fim, regressamos à receção/loja de vinhos. Eis o sítio ideal para conhecer todos os néctares aqui nascidos (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Alfrocheiro, D. Georgina, D. Santana e D. Louise) e ainda outros dois produtos ainda em desenvolvimento, igualamente com o selo Quinta de Lemos: azeite e mel. Também eles, como é apanágio da casa, primam pela excelência e prometem dar que falar.

Da pedra ao céu
 

O caminho até ao novo edifício, no alto da propriedade, é um bom pretexto para conhecermos as vinhas, únicas na região pela sua densidade. Por estarem mais apertadas que o habitual produzem uvas maiores e com mais qualidade mas, mesmo assim, só as melhores serão levadas para a adega. A certa altura as vinhas dão lugar a um terreno mais rude, feito de terra e granito, encimado por uma surpreendente construção de concreto, vidro e aço, assinada pelo arquiteto Carvalho Araújo.

Lá dentro, voltamos a encontrar o granito, mas desta vez numa enorme pedra que irrompe do exterior e torna o espaço do Mesa de Lemos ainda mais dramático. Inaugurado em 2014, este restaurante (aberto apenas às sextas e sábados à noite, sob marcação) dá a provar os melhores produtores nacionais, uns oriundos da horta da propriedade, outros de lugares mais distantes, como o peixe das Berlengas apanhado pelo enólogo da quinta. Sim, Hugo Chaves também é armador e uma parte do que captura segue diretamente para lá. Quem agradece é o chefe Diogo Rocha, cujos pratos são cuidadosamente harmonizados com os vinhos da casa.

Paredes meias com o restaurante Mesa de Lemos fica o show room das marcas da Abyss e Habidecor, uma piscina interior e as três suítes que compõem a guest house privada (só para convidados). Decoradas por Nini Andrade Silva aproveitam ao máximo os têxteis da família e, claro, as vistas deslumbrantes que as enormes janelas da casa oferecem. Melhor cenário só mesmo no terraço, de onde se alcança uma perspetiva de 360 graus sobre a paisagem envolvente, rodeada por dois rios – Dão e Asnes – e quatro serras – Estrela, Caramulo, Buçaco e Nave. Ali ao lado fica também um heliporto, ou não fosse a propriedade frequentada por clientes de todo o mundo, dos Estados Unidos ao Dubai, passando pela Bélgica e Hong Kong. Altos voos esperam a Quinta de Lemos.

Quinta de Lemos – Silgueiros/Viseu
Morada: Passos de Silgueiros

www.celsodelemos.com

Distância de Lisboa: 283 km
Percurso recomendado: A1, IP3, N337
Custo das portagens: 14.25€

Distância do Porto: 140 Km
Percurso recomendado: A1, A25, N231
Custo das portagens: 8,95€

 

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