Quando surfar na praia de Carcavelos era um desporto radical

André, do blogue À Paisana, levou o filho de ano e meio à praia de Carcavelos. Enquanto se deleitava, embevecido, com as brincadeiras do bebé, pôs-se a recordar os seus tempos de surfista cool. Pois...

Aqui há uns meses aproveitámos um primeiro dia de bom tempo primaveril para ir com o nosso filho de ano e meio à praia de Carcavelos. Estava uma tarde solarenga e a maré baixa deixava o miúdo correr pelo areal à vontade. Claro que onde corre um miúdo de ano e meio também corre um pai atrás dele. A maior parte do tempo foi passado a evitar que levasse todas as bicicletas de criança que encontrava pelo caminho (e dizia ‘minha!’), e de o impedir de tirar comida da mesa das pessoas nas esplanadas. Mas não deixou de ser uma bela tarde, sobretudo quando o deitámos mais cansado que o habitual e conseguimos jantar sossegados.

Antes de ir viver para Lisboa, durante a maior parte da minha vida a praia de Carcavelos esteve sempre à distância de cinco minutos de carro, quinze minutos de bicicleta ou meia hora a pé. E antes de estar na moda falar-se em espaços multifuncionais de lazer e entretenimento (um nome pomposo para disfarçar a insipidez dos centros comerciais), já a praia trazia actividades diversas que davam para o ano inteiro.

Da minha geografia histórica da Praia de Carcavelos fazem parte referências como almoços em família no restaurante Pérola, ou as entradas no mar, nos meus anos de bodyboard, na zona da Tricana. Havia também o mítico “bar da Mistral” (era mais uma barraca), onde passei muitas noites de Verão a beber as minhas primeiras imperiais e que depois se transformou em Windsurf Café. E depois o eixo Pastorinha-Calhau, que era onde paravam os surfistas e a malta mais cool da praia, um grupo onde eu, naturalmente, não me incluía.

Já as minhas experiências como bodyboarder não ficam para a história, mas ensinaram-me coisas importantes. Uma delas é o respeito pelo mar, que qualquer desajeitado que tenha tentado surfar durante a época das ‘marés vivas’ fica a conhecer bem. A outra é a importância de ter um bom cadeado para a bicicleta.

Hoje em dia ficamos muito escandalizados se a água tem aquelas espuminhas com mau aspecto, mas na altura havia um esgoto a céu aberto que desembocava mesmo na praia e se cheirava desde a marginal. Lembro-me bem da angústia que era ser enrolado por uma onda e engolir um shot daquela água poluída. Aliás, era o perigo contaminação que fazia com que o surf e o body fossem considerados desportos radicais, e não o facto de se fazerem “aéreos”.

Sempre que revisito a Praia de Carcavelos vejo que algumas destas referências se mantiveram, enquanto outras desapareceram ou evoluíram. Têm aparecido restaurantes de sushi, pizarias, novas esplanadas, escolas de surf, e, mais importante, a praia continua a ser referência para novos e velhos, surfistas e esplanadistas, desportistas de areia e leitores de espreguiçadeira.

Se o meu filho quiser aprender a fazer surf, não tenho dúvidas que o primeiro sítio onde o vou levar vai ser à praia de Carcavelos. A não ser que já tenha mais de 10 anos – nesse caso pode perfeitamente ir de comboio.

 

O autor e o blogue
No início de 2013, poucos meses após o nascimento do seu primeiro filho, André Lapa lançou o blogue À Paisana. Desde a decisão de ser pai até aos “mexican reports” que vão dando conta da evolução do bebé (conhecido, vá-se lá saber porquê, como Mexicano), este é um blogue sobre a aventura de ser pai. Ou qualquer coisa do género.
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