Pezinhos na Areia - Altura

Azul e verde

Quase no fim do Algarve, já longe das multidões, dos prédios e das praias cheias, fica um aldeamento discreto perto do mar. O sítio chama-se Praia Verde, por causa do pinhal que esconde as casas no cimo de um pequeno morro. E do mar em frente, claro.
Atravessado o longo pinhal, por respeito à natureza deixam-se os carros lá em cima, num parque de estacionamento largo, e segue-se a pé. Coisa pouco. Não custa nada descer, e para cima também não vai ser difícil. É só a distância mínima para não arrumar os carros sobre as dunas.
Ainda cá de cima vê-se praia para todos os lados. Um areal enorme que deve vir pelo menos desde Monte Gordo — ou mais se calhar, mas a vista não dá para tanto — e que para o lado direito segue também até se perder de vista.
Feita a primeira observação, vai-se então até à areia propriamente dita. O que se via lá de cima confirma-se cá em baixo. Mas daqui vê-se mais alguma coisa.
Do lado esquerdo, uma construção arredondada, com esplanada posta mesmo em cima da areia. Está mais do que explicado o nome do sítio. Pezinhos na Areia. Bom, não é bem na areia porque há um chão de cimento para as cadeiras e mesas não ficarem todas tortas, o que seria uma maçada. Mas é quase, de facto.
O restaurante apetece logo, mas a praia também. Ao longo do enorme mar tranquilo, dezenas de homens movem-se, arrastando atrás de si pesadas redes, estendendo depois na praia o resultado da apanha. Amêijoas, conquilhas. Tudo.
Quem gosta de andar, numa praia assim tem tudo para ficar satisfeito. Com a maré vazia anda-se, anda-se, anda-se. E nunca mais acaba. Ao fim de meia hora de caminhada para cada lado, ainda se vê o fundo da praia bem longe. E uma caminhada assim só dá quem quer. Outra das vantagens do sítio é que a praia tem pouca gente. Anda-se para longe porque apetece, não porque tem de ser.

De tanto andar, está-se mesmo a ver o resultado. Ainda o dia vai a meio e já a fome é mais que muita. Nada de grave, aqui. Anda-se, agora muito, muito pouco, e está-se nos Pezinhos na Areia, entre os guarda-sóis e as mesas da esplanada, com a praia toda como vista.
Com as pernas finalmente quietas, vai-se ao que interessa. Lá dentro há um pequeno balcão, vitrina, e até mesas. Mas cá fora está-se melhor. E como o serviço é feito por uma multidão de gente simpática e eficiente — coisa não muito vulgar lá para sul — na esplanada é que vai ser.
Trazida a lista, há imensas coisas que apetecem. Para lá dos peixes, há originalidades, como as pataniscas de camarão e, claro, a obrigatória salada de polvo, aqui servida com batata cosida pelo meio.
Sendo almoço, e mesmo acreditando que depois se vai passear mais um bocado, talvez o melhor seja obedecer às regras da contenção e ficar por um peixe grelhado acompanhado com água. Sendo época delas, como é agora, uma ferreira vai muito bem. Peixe do Algarve, saboroso, e raro de encontrar noutras paragens. Se fosse de noite, a lista de vinhos, bem completa, merecia com certeza uma visita demorada. Mas de dia, e com a toalha ali tão perto, não parece boa ideia entrar em aventuras dessas. Coma-se então moderadamente, e se a praia continuar boa, porque não jantar? Com vinho, entradas e uma sobremesa algarvia. Dias assim é que são dias.


Informação Detalhada

Bernardo Vieira

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