A expressão crioula “sabura”, que significa apreciar o que é bom, dá nome a um projecto de visitas guiadas pelo melhor da Cova da Moura. Descubra a cachupa e a mandioca, o batuque e o funaná, as danças e as tranças nesta autêntica 11ª ilha de Cabo Verde.
O encontro está marcado para as 10 da manhã nas bombas de combustível da Buraca. Este é o local mais indicado porque os taxistas não gostam de entrar no bairro, pintando quase sempre um cenário negro do que nos espera na Cova da Moura. Ainda a bandeirada mal começou a contar e já estamos avisados para “o tráfico de droga em cada canto, para as ruas perigosas onde ninguém escapa sem ser assaltado”.
Fama ou proveito, a verdade é que a esta hora o bairro está tranquilo e a rua principal recebe-nos cheia de vida. As crianças brincam despreocupadamente, os homens põe a conversa em dia junto aos cafés e as mulheres dividem-se entre a banca de roupa e a de frutas e vegetais. À primeira vista ninguém diria que este é um dos bairros com pior reputação do país, mas se as paredes falassem...
Para dizer a verdade, até há uma que fala. Em linguagem de grafitter, recorda os nomes dos 11 jovens do bairro que faleceram nos últimos anos, alguns após incidentes com a polícia, que também chorou a morte de um agente, ali bem perto.
O nosso guia, Heidir Correia, virou as costas a este destino. Em tempos roubou carros e traficou droga, mas hoje é o coordenador de um projecto exemplar de integração socio-cultural, que já deu a conhecer a Cova da Moura a mais de 3 mil pessoas de todas as idades, profissões e estatutos sociais. Não é por acaso que, lembra um lema do “Sabura”, “um outro mundo é possível, se a gente quiser”...
O coração da Cova da Moura
Depois da breve visita à animada e colorida creche A Árvore, onde ficam crianças dos 5 meses aos 3 anos, subimos até à Associação Moinho da Juventude, autêntica ilha dentro da ilha que já é a Cova da Moura. Há mais de duas décadas que passou a ser o verdadeiro motor do bairro, graças a vários projectos de apoio aos moradores.
Além do Sabura, lançou também O Pulo, um curso de formação que ajuda os pais a educar as crianças, o Bem Passa Ku Nos, que incentiva os jovens a dizer não à violência, e o Finca Pé, na área da música e da dança, entre muitos outros. É por isso que para Heidir Correia, “o Moinho é o coração do bairro e se este coração deixasse de bater, a Cova da Moura morria também”.
Nelson Jerónimo Rdrigues 2010-07-07