Antes do grande Guadiana se fundir no mar forma uma zona estuarina onde se entrelaçam os seus próprios esteiros, uma vasta área de sapal que o acompanha e as salinas que o Homem lhe conquistou. E com uma vida fervilhante: desde peixes, crustáceos e moluscos bivalves até uma grande variedade de aves aquáticas. Um pequeno mundo desde há séculos vigiado do alto pelo castelo e fortaleza de Castro Marim.
Foi uma das primeiras áreas protegidas a ser criada em Portugal, reflectindo um já longo reconhecimento da sua importância natural. É uma região particular, das mais áridas do país. Se cerca de 60% da área corresponde a zonas húmidas, como os esteiros do Guadiana, o sapal e as salinas, ainda sobram as terras de sequeiro com cheiro a Algarve: alfarrobeiras (Ceratonia siliqua), amendoeiras (Prunus dulcis) e figueiras (Ficus carica), para além de montados, pastagens e matos mediterrânicos.
Mas é o sapal que dá nome à reserva e com bons motivos, quer pela extensão, quer pela sua importância, pois este tipo de ecossistema é considerado o de maior produtividade biológica do planeta. É um tipo de formação vegetal assente em substratos vasosos bem adaptado à emersão pelas marés e a grandes concentrações de salinidade.
Pelo facto de reterem muita matéria orgânica e nutrientes minerais transportados pelas águas do rio e do mar, os sapais são a base de uma rica cadeia alimentar. Por isso são escolhidos como locais de abrigo, de alimentação, de desova ou de crescimento de juvenis para inúmeras espécies de peixes, incluindo várias de elevado valor comercial, como o sargo (Diplodus sargus), o robalo (Dicentrarchus labrax), o linguado (Solea senegalensis) ou a dourada (Sparus aurata).
O mesmo se passando com os moluscos bivalves, aqui representados com cerca de 30 espécies, entre os quais o berbigão (Cardium edule), a amêijoa-branca (Spisula solida) e o lingueirão (Ensis siliqua).
David Travassos
