Paramotor na praia da Torreira

Voar. Voar mesmo, quase como os pássaros, é assim. Como não temos asas, pendura-se uma hélice pelas costas e vai-se por esse céu fora. Um sonho antigo, realizável.

No meio de um campo raso, vários homens preparam-se para voar. Desde o princípio da história que há homens que tentam voar, mas estes vão conseguir. Sem avião, helicóptero ou balão, tiram os pés do chão com a ajuda de um… pára-quedas. Nas costas, levam presa uma enorme ventoinha propulsionada por um motor. Visto de fora parece fácil, mas não é. Para fazer paramotor (é assim que a coisa se chama) sozinho é preciso ter já alguma experiência de parapente, ou um curso próprio. Senão, há sempre a hipótese de voar acompanhado pelo instrutor. Que também é uma forma mais segura, claro.

Das carrinhas estacionadas no campo, um grupo de homens atarefados retira umas ventoinhas estranhas com motores e asas de pára-quedas. António Simões conversa com os seus pupilos dando as últimas instruções de voo. Mesmo para os praticantes usuais, arrancar nem sempre é fácil.

Em primeiro lugar, é preciso desembaraçar o mar de fios do pára-quedas, que têm de estar geometricamente alinhados. A seguir, esticar a asa no chão e prendê-la à ventoinha. Depois um ajudante arranca o motor que às vezes não pega à primeira, puxando um fio, como se fosse um pequeno barco a motor. Já a todo o gás, o piloto começa a correr desajeitadamente com uma ventoinha às costas, até que a asa se eleva do chão como a cauda de uma pavão. Recolhe o trem de aterragem, que é como quem diz encolhe as pernas e flecte para os lado até ganhar altura, e aí vai ele.


Estou a voar

Um depósito de cinco litros de gasolina permite voar pelo menos hora e meia. Não se chega a Marrocos, mas dá muita luta na mesma.

Uma vez, alguém, ex-paraquedista aficcionado destas andanças, conta como chegou a fugir à polícia de paramotor, no dia em que foi voar para a praia de Leça da Palmeira. “Eles de jipe e eu a voar a ver quem chegava primeiro ao meu carro” comenta ufano. Teve sorte e nunca foi apanhado. É que a legislação portuguesa é pouco flexível e não se pode voar em tudo o que é terreno público.

Picardias à parte, o paramotor tem uma grande autonomia de movimentos. Desde que haja gasolina suficiente, basta aumentar a rotação do motor e sobe-se até onde se quiser. Depois de se atingir uma altura razoável, começa-se a descer. E aí, não difere muito de um parapente, embora mais complexo. Mesmo assim, no ar é preciso ter em atenção a alguma rajada de vento mais traiçoeira.

Cautelas à parte, voar de parapente é como andar de mota. Aliás, o motor de 12 cavalos é o mesmo. Tudo se controla com um manípulo que é o acelerador. E para virar, é puxar os punhos que controlam os alvéolos, ora para a esquerda, ora para a direita.

Em terra, fica um “controlador aéreo” que via rádio dá algumas instruções e troca impressões com os pilotos sobre as condições atmosféricas, vento e outros perigos que possam surgir. A melhor altura para voar é na alvorada ou no final do dia, pois as correntes de ar quente aquecidas pelo sol, dificultam a estabilidade do voo.


Como é que isto se faz?

As hélices das ventoinhas são leves e frágeis, com um diâmetro que oscila entre os 98cm e 1,20 metros. Normalmente são de madeira e feitas a mão, ainda que também existam de fibra de vidro, mais resistentes, e caras também. Tal como um normal avião a hélice, estas pás criam a força necessária para levantar um homem do chão. No entanto não podem ultrapassar a velocidade do som, ou seja, 3000 rotações por minuto. Caso contrário, partem imediatamente e aí seria o cabo dos o trabalhos, mas não necessariamente a morte do artista. Para sentir toda esta adrenalina, dê um pulo até à escola litoral da Torreira. Talvez até Leonardo da Vinci, inventor do primeiro pára-quedas, gostasse de experimentar um brinquedo assim.

N'Dalo Rocha 2001-07-11

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