O seu nome vem do árabe “al-turmus”, e é da família das favas e ervilhas. Fiel companheiro da cerveja, o tremoço é um verdadeiro petisco tradicional injustamente votado a alguma indiferença perante o carisma de uns pistácios ou até de uns amendoins.
Servido gratuitamente nas tascas e cervejarias - um pires por cada cerveja -, não é fácil encontrar nos cafés e esplanadas mais recentes, mas começa a ser reabilitado nalguns restaurantes que recuperam acepipes tradicionais e onde é possível degustá-lo condimentado das mais variadas várias formas: com salsa, vinagre e alho (na Taberna Ideal), marinados à moda da Madeira com pimentos, coentros e alho (o Madeirense no Parque das Nações) ou conjugados com azeitonas pretas e pickles (no Noobai).
A verdade é que o debicámos durante anos de forma displicente, pouco sabendo da sua história. Suspeitássemos nós que as propriedades nutricionais desta leguminosa (por que é de uma leguminosa que se trata) justificavam a sua inclusão na classe dos alimentos salvíficos e teríamos dado ao acto maior solenidade. Assim, permaneceu com o encanto das coisas simples.
É que nutricionalmente este modesto bago amarelo está quase ao nível de um bife. Tem três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do que o leite de vaca. E mais: é rico em fibras, vitaminas do complexo B, cálcio, potássio, ferro, vitamina E e ómega 3. E ainda mais: o seu reduzido teor em amido converte-o num aliado nada desprezível no controlo dos níveis de açúcar no sangue e um óptimo companheiro das dietas. As suas propriedades cicatrizantes estimulam a renovação das células da pele...
Um verdadeiro elixir, em suma. Os egípcios deviam sabê-lo, consumiam a semente do tremoceiro há pelo menos três mil anos. Actualmente a Austrália é o maior produtor mundial. Além de Portugal, são também são apreciados na América latina e nalguns países da bacia do Mediterrâneo.
Em busca dos tremoços perdidos
Já se sabe que descobrir esse lugar mítico com a melhor cerveja e os melhores tremoços é tarefa de uma vida. Há quem nunca o encontre mas a busca em si já vale a pena. Além dos novos locais trendy que recuperam este acepipe, só mesmo as tascas e cervejarias mais underground é que mantêm a tradição. Nas petisqueiras da Morais Soares ou nas tascas do Cais do Sodré, em Lisboa, é certo que não lhe negarão um pires.
A Portugália e a Trindade são clássicos quase infalíveis, assim como o Eduardo das Conquilhas, na Parede, o Pinóquio, nos Restauradores, ou o Sem Palavras, na zona de Alvalade. Não descure a pesquisa em locais mais anónimos. Se nem tudo o que luz é tremoço, às vezes os mais frescos e estaladiços podem ser os que se ocultam em pires mais modestos.
Bárbara Bettencourt 2009-08-26