Mergulho em Sesimbra

Por muita coragem que haja, o primeiro contacto com a água é sempre na piscina. Aprende-se as noções básicas e os procedimentos essenciais e só depois então é que se passa para o mar. Por uma questão de segurança, já que o seguro morreu de velho.

No fundo do mar

Esta é daquelas experiências difíceis de traduzir por palavras. A verdade é que só o mergulhador sabe quais são as sensações únicas que uma actividade destas pode oferecer. Passado o nervosismo e a ansiedade inicial, natural nestas situações, sente-se um bem-estar só possível pelo meio em que nos encontramos. A paz é absoluta. Não se está preso de movimentos e a liberdade é um dado adquirido. Quando se mergulha não há nenhum objectivo, a não ser o prazer que se tem em fazê-lo, aliada à atracção do novo a cada instante. É que nenhum mergulho é igual ao anterior, ainda que seja feito no mesmo sítio. O mar está em constante movimento, daí que o que se encontra um dia, nem sempre se repete no mergulho seguinte. Por isso, para se ser adepto desta modalidade tem que se gostar mesmo muito do mar e de tudo o que lhe está associado.

Nos primeiros tempos, durante o curso, a profundidade máxima situa-se entre os 6 e os 12 metros, mas depois pode-se mergulhar até aos 40 metros, segundo o CMAS (uma das entidades internacionais que regulam o mergulho). A abstracção chega depressa e até nos esquecemos que estamos ali graças ao material suplementar e que até respiramos por um "tubo". Apesar do fato de mergulho, às vezes tem-se mais frio do que outras. Nada que não se suporte. Afinal, estamos noutro mundo, embora sintamos que fazemos parte dele de alguma forma. Admira-se o que se vê, mas apenas isso, pois é proibido trazer-se o que quer que seja do fundo do mar, ainda que haja quem o faça, principalmente junto aos barcos afundados. É tudo uma questão de consciência. Tocar, pode-se. Nas rochas, nas algas, no fundo e até nos peixes, embora haja espécies mais perigosas do que outras. O que às vezes acontece, é que mesmo que não lhes queiramos tocar, são eles que nos tocam a nós, empurrados pela corrente. E aí não há nada a fazer.

Sesimbra é uma das zonas mais indicadas para a iniciação do mergulho desportivo. Dependendo das zonas, o fundo é rochoso e as águas esverdeadas e límpidas. Ouvem-se sons, das correntes, do movimento das algas… e até do colega que chama a atenção para qualquer coisa. O mar está cheio de cores, mas nada parecido com o das zonas tropicais com aqueles corais que toda a gente conhece, nem que seja apenas da televisão. As cores que existem no nosso fundo são emprestadas pelas diferentes tonalidades dos peixes, isto quando existe luz suficiente para as vermos. Quando a profundidade for muita e não existir claridade, valem as lanternas, mas aí as cores já não existem, ou melhor ficam completamente alteradas. Para já vêem-se rochas que parecem formar paredes. Também há grutas, onde se escondem peixes e outros habitantes marinhos. Para quem se inicia nestas coisas é até bem difícil de os identificar. Ruivos, lulas, safios e até judias, um peixe bem mais raro. Há que se ter ligeiramente mais cuidado com os polvos. O truque para se lidar com eles é não os afastar, nem é tanto pela tinta que lançam, que para um humano é irrelevante, mas é que com essa medida corre-se o risco de se colarem literalmente e, quando mais se afasta, mais eles gostam de nós. Até já aconteceu alguém sair da água e levar o polvo atrás…

Paula Oliveira Silva 2002-08-06

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