A criação do dia mundial da mentira remota ao ano de 1564 em França, quando, por decreto real, Carlos IX introduziu o calendário Gregoriano. Por conseguinte, alterou-se a comemoração do Ano Novo (que coincidia com a chegada da Primavera), encurtando-se a festa que durava uma semana entre o dia 25 de Março e o primeiro de Abril, para se assinalar a efeméride no primeiro de Janeiro.
Porém, como não há bela sem senão, alguns súbditos decidiram não acatar as ordens reais e continuaram a celebrar a passagem do ano na data antiga. É claro que foram alvo de grande chacota e desde então esses pobres anacrónicos passaram a ser as vítimas, uma espécie de bobos da corte a quem se enviavam presentes ridículos ou convites para festas que não existiam.
Com o passar dos tempos a moda alastrou à Europa e ao resto do mundo, nascendo assim o dia mundial da mentira.
E aproveitando a deixa, pois não queríamos que a data passasse desapercebida, deixamos-te aqui o breve curriculum de alguns dos maiores burlões da história.
Alves dos Reis, o falsário
Alves dos Reis foi o maior falsificador português de que há memória. No primeiro quartel do século XX, foi destacado para Angola e tornou-se Director dos Caminhos de Ferro de Moçâmedes e para tal, forjou o seu diploma da Escola de Engenharia da Universidade de Oxford, instituição que nem sequer existia.
Depois de muita trafulhice comprou a “Ambar” C.ª Caminhos de Ferro Transafricanos, regressou a Portugal, foi preso por 54 dias, e durante o tempo que esteve encarcerado elaborou o mais maquiavélico plano para se apoderar do Banco de Portugal. Com a ajuda de sócios imprimiu mais de 2 milhões de notas de 500$00 de um banco fictício. Passou uns anos valentes na prisão e quando saiu, já no ano de 1945, ainda lhe ofereceram o emprego de bancário que recusou. Há coisas do arco da velha.
Capitão Roby, o pinga-amor
O Capitão Roby, ou melhor, Jorge Veríssimo Monteiro, foi o maior sedutor de que há memória na história recente de Portugal. Há 30 anos atrás este filho de boas famílias, uma espécie de Don Juan burlão, enganou dezenas de mulheres ao longo da sua vida, retirando dessas relações dividendos económicos. Nem a própria mãe escapou.
Bem falante e sempre impecavelmente vestido, era um homem charmoso que tinha sucesso junto do sexo oposto, mas também com os homens de negócios a quem enganava com golpes mirabolantes. Fazendo-se passar umas vezes por Conde, outras por Comendador, fugia frequentemente de hotéis de cinco estrelas sem pagar, passava cheques sem cobertura, entre outras falcatruas.
Foi acusado por muitas mulheres, mas curiosamente, também conservou algumas defensoras indefectíveis que ainda hoje o acompanham na sua vida, como é o caso da mulher polícia que lhe assegura a segurança pessoal.
Hoje tem um Porsche e vive retirado num belo apartamento em Torres Vedras, onde tem um telescópio apontado para a piscina através do qual continua a apreciar os atributos femininos.
Dona Branca, a banqueira do povo
Como no Brasil existem os bicheiros, os homens que controlam o jogo do bicho e servem de algum modo como economia paralela, em Portugal surgiu nos anos 80 a Dona Branca, uma espécie de banqueira popular, o tio Patinhas dos pobres.
Basicamente o esquema era o seguinte. As pessoas emprestavam o dinheiro à Dona Branca que o punha a render em sua casa pagando juros elevadíssimos ao fim de cada mês. Melhor era impossível, mas como o dinheiro não se multiplica, a senhora em questão retirava os juros dos novos sócios para pagar aos antigos. Até que chegou a um certo momento em que havia tanta gente com dinheiro na Dona Branca que o negócio ruiu e houve muitas pessoas que perderam pequenas fortunas. Como acabou, não é difícil prever, no xilindró, evidentemente.
Frank Abagnale, o homem dos mil ofícios
Se não viste o filme “Apanha-me se puderes” com o Leonardo Di Caprio, aluga que vale a pena. Se já conheces a história, pouco mais há a dizer sobre este homem que começou por se fazer passar por piloto da extinta companhia aérea Pan Am. Acto contínuo, percebeu que podia passar cheques falsos a torto e a direito e levantar somas avultadas de dinheiro, trapaceando os bancos.
Entre muitas profissões, chegou a passar-se por médico e advogado, apesar de ter conseguido passar no exame da ordem, talvez a única vez em que teve mérito. Finalmente foi preso por um agente do FBI que o perseguia já há alguns anos e paradoxalmente, ao sair da cadeia, passou a colaborar com a polícia na captura de cheques falsos. Mais tarde tornou-se rico ao criar uma empresa de segurança que prestava serviços à banca na prevenção da burla. Dá para dizer, o crime não compensa.
Ronald Biggs, o salteador
Ronald Biggs, ao contrário de Frank Abagnale, tem uma história mais atribulada. Pertencia à quadrilha que em 1963 assaltou um comboio dos correios em Inglaterra roubando à companhia a astronómica quantia de 5 milhões de libras esterlinas.
Aos poucos, todos os membros da quadrilha foram sendo apanhados e Biggs inclusive, foi preso e condenado a trinta anos de prisão. Porém, conseguiu escapar da penitenciária de Wandswort e refugiar-se primeiro na Austrália e depois no Brasil. Por lá fez um filho e só por causa dessa artimanha teve direito à nacionalidade brasileira, o que lhe impediu de ser deportado para a Inglaterra que reclamava a sua extradição.
Por mais de trinta anos, viveu não só dos rendimentos do assalto, mas também da empresa turística que criou, recebendo turistas ingleses em sua casa e repetindo vezes sem conta o fatídico assalto ao comboio, cobrando dinheiro por isso.
Em 2001, doente e cansado de viver na América do Sul, fez um acordo com as autoridades britânicas e entregou-se, voltando para a prisão pois pretendia acabar os seus dias na sua pátria.
N'Dalo Rocha 2004-03-30