Em plena Avenida Almirante Reis, quase ao lado da tradicional Cervejaria Portugália, há um centro comercial muito peculiar no cenário lisboeta – o Centro Comercial Portugália. Aí, entre algumas lojas perfeitamente comuns, pode-se encontrar um punhado de sítios especiais, quase únicos na cidade. Nos corredores ladeados por lojas de roupas, calçados, cafés, cabeleireiros e papelarias, alinham-se aqui e ali, em vários andares, algumas lojas especializadas em objectos e estilos de vida pouco comuns num centro comercial lisboeta.
Discos de vinil
Logo no rés do chão, tomando-se a entrada principal no número 113 da Avenida Almirante Reis, encontram-se três lojas especializadas em objectos de culto – os discos em vinil, as revistas de Banda Desenhada, ou “Comics”, e a indumentária das claques de futebol.
Na loja 325, Neon Records, o proprietário Francisco Dias explica que a colecção de discos de vinil ali exposta inclui raridades e vários estilos de música: Punk, Hard Core, Rock & Roll e Garage.
“São as principais tendências musicais disponíveis aqui na loja, mas também temos outros géneros facilmente consumíveis em vinil e objecto de grande culto entre o público, como o Indie, o Pop Rock alternativo e o Metal”, enumera Francisco que há dois anos abastece uma clientela conhecedora do assunto, com idades compreendidas entre os 20 e os 45 anos.
O catálogo da loja Neon Records é delineado pelo gosto pessoal do proprietário que, desde os 11 anos de idade, cultiva o gosto pelos discos em vinil. “Antes mesmo de ter a loja já fazia venda de discos pelo correio.” E também conta que além de ter uma banda Punk-Rock, The No-Counts, também está ligado à organização e ao patrocínio de concertos de Rock & Roll e Punk Rock em locais tão diversos como o Paradise Garage, em Alcântara, a Associação Cultural de Torres Vedras, a Voz do Operário, a Academia de Linda-aVelha e o pavilhão da Junta de Freguesia de Benfica. É todo um estilo. Diferente.
“Graças ao contacto com as editoras discográficas americanas e de outros países fica fácil organizar a vinda de bandas internacionais para Portugal. Já trouxemos um grupo de rock de Nova Iorque, o SpeedBall Baby, e o Sonny Vincent, um veterano artista americano da cena Punk-Rock desde 1976”, menciona Francisco dizendo participar também na organização de festas Punk e Rock & Roll em dias da semana no Bairro Alto, especialmente no Bar Limbo e no Rookie, com DJ’s especializados em estilo gótico, Metal, Punk e Rock.
Para quem gosta desses géneros de música e quer saber mais sobre os concertos e os pontos de encontro dos demais fãs, basta visitar a Neon Records, ler o “fanzine” Mondo Bizarre, uma publicação alternativa distribuída gratuitamente a cada três meses, passar pelos bares Limbo e Rookie no Bairro Alto, ou pelo café São Servidos – lojas 319-326 no Centro Comercial Portugália -, ou então navegar na Internet, nos canais de conversação IRC, sob as siglas Goth, Gotico, Punk, Punk&Garage, Rockabilly.
Para os apreciadores das músicas dos anos 60 e 70, em discos de vinil, existe a Discolecção, no Centro Comercial Palladium, na Av. da Liberdade, nº 7, loja 2. Os lançamentos e as novidades em vinil e CD’s podem ser encontrados na Kingsize Records, na Rua da Alfandega, nº 114. E na Jukebox há uma ampla escolha de vinil, singles e CD’s, novos e usados, incluindo todos os géneros musicais, do Fado ao Heavy Metal, da Música Portuguesa ao Gótico e Industrial.
“Comics” e futebol
No mesmo piso, na loja 303, fica a Mongorhead, especializada em todo o tipo de revistas de Banda Desenhada importadas, “toys”, T-Shirts e posters. “Há quatro anos que estamos a funcionar aqui, mas a minha actividade na venda de ‘Comics’ soma já 7 anos, em vários sítios de Lisboa”, conta Tiago Pimenta Sousa Sério.
“Comecei com um caixote de revistas e hoje a loja é abastecida por um armazém a nível mundial, com um acordo de distribuição das maiores editoras do género, como a Marvel, DC, Image, Dark Horse, e várias empresas independentes”, explica Tiago dizendo que todos os meses recebe material novo e usado da Europa e dos Estados Unidos.
São vários os géneros de “Comics” da loja Mongorhead – humor, fantástico, ficção científica e super-heróis – incluindo também Banda Desenhada alternativa sobre política, ecologia e crítica social.
“Há os clássicos como Batman, Super Man, Homem Aranha, Hulk e Captain America, os super heróis actuais como X-Men e Spawn, o humor brasileiro como o dos autores Angeli e Laerte, os clássicos americanos de Kirby e Steranko e também as obras de vanguarda como os trabalhos de Alan Moore (WatchMan), Grant Morrison (Invisibles), Pat Mills (Slaine, Marshall Law) e dos desenhadores Brian Bolland, Kevin O’Neil e Simon Bisley”, exemplifica.
Tiago cita ainda alguns raros desenhadores portugueses como Luís Louro, Ana Cortesão e o consagrado Eduardo Teixeira Coelho e algumas “fanzines” e periódicos nacionais, como A Bíblia, de Tiago Lopes e colaboradores, A mesinha de cabeceira, de Marcos Farrajota e colaboradores, e o Número, de vários autores, publicado com o apoio do Ministério da Cultura.
No meio dos escaparates recheados de revistas, também estão em exposição os “Action Figures”, ou bonecos de acção, representativos de personagens dos “Comics”, de filmes de culto - como O Corvo, Mad Max e Eduardo Mãos de Tesoura -, e até de bandas musicais, como Kiss. “Logo serão lançadas as figuras da banda Metálica e toda uma gama de ‘Action Figures’ baseadas nos desenhos de H.R. Giges, autor dos desenhos do filme Allien”, diz ele ressaltando a ligação entre os “Comics”, o cinema e a música independente.
O público é variado, com idades entre os 13 e os 60 anos. Os preços também são diversos – desde os 470 a 700 escudos por uma revista importada nova, até os 14 contos, preço de uma revista Vampirella do ano de 1973, ou os mais de 100 contos, valor do primeiro número do Silver Surfer, escrito por Stan Lee e desenhado por John Buscema, em 1968, ou os quase 359 contos, preço da revista nº 100 do Super Man.
Poucos passos adiante, no mesmo piso, há uma loja exclusiva para os adeptos do futebol nacional e internacional, a Portugal Ultra, especializada em material de e para as claques de futebol.
“A colecção inclui bonés, cachecóis, T-shirts de vários clubes portugueses, revistas nacionais e estrangeiras dedicadas às claques e roupas de marca – Troublemaker, Crime, BenSherman –, que o pessoal das claques aprecia”, diz Emanuel Lameira, presidente da claque “Diabos Vermelhos” do Benfica, que há 6 anos é distribuidor exclusivo em Portugal, na sua loja instalada no número 324 do Centro Comercial Portugália.
Nysse Arruda 2001-05-30