Ir às compras: de operação militar a procissão ao calvário

Andar às compras num centro comercial com um bebé de dois meses? Sim, qualquer pai, mesmo um tão "profissional", como o André do À Paisana, pode acabar por cair numa esparrela destas.

Um dos meus momentos mais marcantes de “oh deus, onde é que eu vim parar”, relacionado com a parentalidade, foi num restaurante no Freeport de Alcochete, num dia de compras em família.

Sempre encarei o “ir às compras” como uma operação do tipo militar. Identificar o alvo (peça pretendida), entrar, escolher e pagar. Não sei o que passou pela minha cabeça quando propus ir com a minha mulher, a sogra e o bebé de dois meses a Alcochete num Sábado. Foi passar de operação militar para uma procissão de desorientados.

Começou logo na saída de casa. Ainda não sabíamos gerir bem os atrasos de sair com um filho pequeno à rua (e acho que ainda não sabemos), portanto em vez de chegar lá a meio da manhã, como planeado, chegámos à hora de almoço.

Quando se tem um filho temperamental e um carrinho de bebé gigante, os critérios de escolha de um restaurante para almoçar passam de “um sítio onde se coma bem e por um preço decente” para “um sítio onde o puto possa berrar e onde ninguém nos julgue”.

Olhando para a zona de restaurantes havia um que deixava pouca margem para dúvidas: um “italiano” com vaquinhas nas paredes e uma daquelas piscinas de bolas onde podemos afogar os miúdos mais irritantes.
Depois de entrarmos, havia outro pormenor incrível: cada mesa tinha um ecrã de televisão que disponibilizava canais cabo. A sério. Podíamos almoçar a ver o Panda ou o Canal Hollywood. Quem foi o génio que se lembrou de uma coisa destas? O bebé chorou, berrou, mamou e ninguém pestanejou. Metade das mesas via o Aonde é Que Para a Policia, a outra metade a Ovelha Choné.

Um sítio mágico, se pensarmos naquela magia dos filmes de terror.

E ainda faltava a parte das compras. Ir às compras com uma mulher, uma sogra e um bebé é como aqueles filmes em que pessoas totalmente diferentes têm de trabalhar juntas para salvar o dia. Só que nesses filmes passado uma hora os personagens já estão a colaborar, na vida real isso não acontece.

O resultado? Três horas para comprar três camisas e dois pares de calças. Um carrinho de bebé a cheirar a queimado porque alguém (não fui eu) sobrecarregou a bolsa inferior com sacos. Uma sogra traumatizada por ter almoçado com um ecrã de televisão a dez centímetros do nariz. E uma tarde inteira passada a discutir porque ninguém queria ir às mesmas lojas, e ninguém queria ficar sozinho com o bebé.

Depois disto não voltámos a fazer compras em família. Agora só quando os miúdos já forem crescidos e der para cada um ir à sua vida. Eu fico a beber cervejas.

 

O autor e o blogue
No início de 2013, poucos meses após o nascimento do seu primeiro filho, André Lapa lançou o blogue À Paisana. Desde a decisão de ser pai até aos “mexican reports” que vão dando conta da evolução do bebé (conhecido, vá-se lá saber porquê, como Mexicano), este é um blogue sobre a aventura de ser pai. Ou qualquer coisa do género.
Blogue 
Facebook


Textos anteriores no Lifecooler

Quando surfar na praia de Carcavelos era um desporto radical

André Lapa 2014-12-17

Receba as melhores oportunidades no seu e-mail
Registe-se agora