Em 2009, um fogo acabou com a cave do número 39 da Praça da Alegria e fechou um clube com mais de seis décadas. Mas em apenas dois anos, o jazz voltou a ouvir-se naquelas bandas, num prédio alguns números acima. E o acaso bateu certo, afinal a porta 48 até faz alusão ao ano em que tudo começou…
Às 22 horas em ponto a porta abre-se e o espaço vai-se compondo. Os habitués são os primeiros. Há turistas, vindos sabe-se lá de onde, casais apaixonados, músicos e estudantes de música. O que une toda esta gente é o gosto pelo jazz.
As mesas vão recebendo essencialmente bebidas (água 1€, cerveja 2.50€, gin 5€), a exceção fica por conta da tosta mista (3€). A carta é curta e não há serviço de mesa. É que o Hot Club não é um bar, é um espaço de divulgação do jazz que por acaso tem um bar e isso faz toda a diferença. A tónica está na música e nos músicos e por isso este novo Hot Club até camarins tem.
O projeto leva o traço dos irmãos e arquitetos Manuel e Francisco Aires Mateus. Quem vai pela primeira vez não passa sem explorar o espaço: o pátio traseiro com mesas - único local onde é permitido fumar -, as paredes cinzentas que acolhem icónicos posters de antigos festivais de jazz dos anos 70 e fotografias de velhas glórias que passaram pelo antigo Hot. Falamos de Dexter Gordon, Louis Armstrong, Quincy Jones e Sidney Bechet, entre tantos outros. A fama vem de longe e a conceituada revista norte-americana de jazz, a Down Beat, de há uma década a esta parte, considera o Hot um dos melhores 100 clubes de jazz do mundo.
Acendem-se as luzes do palco e as conversas diminuem automaticamente de volume. Não é solenidade, é respeito. Hoje é dia de Jorge Reis Quinteto. Bateria, contrabaixo, vibrafone, saxofone e trombone são os instrumentos que fazem música. Um velho conhecido da casa vai marcando o ritmo das palmas, seja quando entra vigoroso o trombone ou quando o vibrafone faz um solo. Toda a gente segue o exemplo. Aqui só se ouve jazz e por noite há sempre duas sessões, uma às 22h30, outra à meia-noite.
O espírito de Luiz Villas-Boas
A Grande Música Negra (Great Black Music) surgiu tímida em Portugal, em 1945, sob o ouvido desconfiado da censura. Uma tertúlia de amigos composta por Luiz Villas-Boas, Gérard Castello-Lopes e os irmãos Augusto e Ivo Mayer juntava-se em casa dos irmãos Sangareau para ouvir, trocar discos e partilhar opiniões.
Paula Oliveira Silva 2013-05-01