Halloween à portuguesa

Há quem ame, há quem odeie. Que a tradição não é portuguesa, que são americanices e mais não sei o quê. Talvez não acredite em festas de Halloween, mas que as há, há.

O Halloween em Portugal é coisa de minorias. Há uma pequena fatia da população que decide herdar à força os resquícios da tradição americana, ao passo que os restantes 99% nem sabe que dia é. É um sábado como os outros.

Vai daí que gera uma certa estranheza avistar inadvertidamente um cidadão vestido de Hannibal Lecter a descer as escadas rolantes do Metro da Alameda, no meio de uma multidão de pessoas aparentemente normal, a ler o seu livrinho, com ar de quem não teme ser a carne para o jantar.

Mais do que estranho, este costume das máscaras chega a ser perigoso. Porque o nosso universo de cagunfa está mais vívido que nunca, graças a séries como The Walking Dead, American Horror Story e outras que tais. Se um morto-vivo me batesse à porta a pedir doces, era 99% certo que lhe espetava um rotativo no céu da boca (estou a brincar, provavelmente fugia e enfiava-me na cama em posição fetal, a chorar).

Pior que as máscaras de Halloween são as máscaras-de-Carnaval-que-também-safam-o-Halloween. É compreensível que uma mãe perca a paciência quando recebe a 5ª carta da escola a convocar os mascarados, e lá vai a miúda com o mesmo vestido de dama antiga, já gasto de tanto uso, mas com o acrescento de uma peruca roxa comprada de véspera no chinês, o chapéu da avó e uma verruga improvisada à mão com o eyeliner da mãe. E a pobre tem de enfrentar um dia inteiro de amiguinhos a perguntar "Estás de quê?" "Errrrrhhhh Bruxa Antiga. Dama Má. Não sei bem."

E é vê-los assim aos montes a passear na rua, crianças híbridas mascaradas de Príncipe Frankenstein, Mosqueteiro Krueger e Bob o Estripador. De repente surge um espantosamente parecido com o Drácula, mas afinal é o único menino que não está mascarado - é naturalmente lívido, e babou-se todo com o iogurte de morango ao lanche.

Falta, claro, o clássico do pai cuja falta de paciência origina genialidade, e lá se lembra de forrar o filho com um lençol velho com dois buracos no lugar dos olhos. "Vai lá filho, se falarem contigo faz Buuuuuuu". E depois admiram-se que são virgens aos 40.

A autora e o blogue
Uma singela página de reciclagem de trivialidades com visitas regulares à Parvónia, de uma jovem moça em idade casadoira, com uma bela anca (uma “anca parideira”, diria a sua avó, perante as mais variadas audiências - “boa para uma ninhada” - enquanto lhe dá vigorosas palmadas na coxa).
No Bumba na Fofinha encontrará o verdadeiro humor de fusão, como aqueles buffets chineses especializados em tudo – baratucho, potencialmente indigesto, mas por 7,50€ enche-se o bandulho com sushi, burritos, e maminha no churrasco.
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