Seja a Norte, seja a Sul, o relógio não se engana na hora de soar as 12 badaladas. É o Ano Novo que bate à porta e recebê-lo com o pé direito é um desejo comum. Ao longo dos tempos, criaram-se rituais na passagem de ano carregados de misticismo que se perpetuaram ao longo dos tempos e na tradição de povos e culturas. Aventure-se pelos caminhos de Portugal e descubra as festas mais tradicionais de Ano Novo.
Reza a história
Uma das festividades mais marcantes da Humanidade já se vislumbra no calendário. Na passagem de ano renovam-se votos e renasce a vontade de realizar sonhos e cumprir desejos. O mesmo sentimento era partilhado na Roma Antiga, altura em que se dedicou o primeiro mês do ano ao deus Janus. Além de ser considerado o deus da paz, esta divindade era representada com duas faces, uma virada para trás e outra virada para a frente, ou como quem diz, para o futuro. Na contagem decrescente para a entrada no novo ano, a História e as tradições revelam rituais baseados na crença de que depois de afastados os espíritos maus, o ano que se segue é sinónimo de prosperidade e abundância. Além das vulgares festas regadas de champanhe, fogo-de-artifício e passas, Portugal guarda ainda festas tradicionais de ano novo, dignas de relato.
Os mascarados do Norte
Escolher o norte do país para a passagem de ano pode representar um verdadeiro boião de cultura. Especialmente na região de Trás-os-Montes, aldeia sim, aldeia não, é possível vivenciar a reprodução de rituais centenários carregados de significação. É o que se passa na Festa dos Rapazes, nas terras circundantes a Bragança. Da noite da consoada até ao dia de Reis, os rapazes solteiros da aldeia orientam as festividades, envergando fatos de serapilheira, máscaras de latão ou madeira e chocalhos à cintura. Durante os dias que antecedem a passagem de ano, os “caretos”, “máscaras”, “carochos”, “chocalheiros” ou “mascarados” (o nome varia de terra para terra) tornam-se seres superiores e circulam pelas ruas da aldeia louvando os mortos, castigando os males sociais e purificando os habitantes. No fundo, trata-se de um ritual de passagem para a idade adulta onde vale tudo, até, e especialmente, meterem-se com as raparigas. Já em Vale Salgueiro, na zona de Mirandela, o mesmo ritual dita que as crianças deverão fumar, um uso controverso que simboliza a passagem da idade infantil para a idade jovem.
Raquel Pereira 2009-12-30