Explorar Conimbriga

Uma viagem ao Império Romano

Conimbriga é a joia do património do concelho de Condeixa. Foi uma importante cidade romana e o facto de ter sido abandonada após a queda do Império ajudou a preservar muitos dos seus monumentosa e edifícios que foram ficando enterrados. Hoje revela os vestiígios de um Império com mais de 2000 mil anos. Venha descobri-los.

À chegada a Conimbriga, que fica a cinco minutos de carro da sede do concelho pela N 347, direção Penela/Tomar, comece por visitar as Ruínas e complemente, depois, com a visita ao Museu Monográfico de Conimbriga. Neste último encontrará expostas lápides, estátuas e diversos objetos do quotidiano, descobertos ao longo de sucessivas campanhas arqueológicas.

Era uma vez duas cidades

Adquira o Guia das Ruínas, vendido na bilheteira ou no Museu, que inclui uma vista geral da cidade no seu apogeu e reconstituições do fórum, das termas e doutros edifícios.
Mal se passa a arcada onde fica a bilheteira, saltam à vista alguns troços da muralha, de recorte quase medieval, que, olhando para oeste, se percebe que rodeava a cidade.
Isto significa que não houve uma Conimbriga mas duas (ou mais): a cidade da época alta do Império Romano, construída no século I d.C. (que, por sua vez, incorporou um antigo povoado pré-romano), e a cidade muralhada no começo do século IV, no início da desagregação do Império.

Desde logo se constata que esta fortificação implicou uma forte redução do perímetro habitado e o sacrifício de edifícios, tanto públicos (anfiteatro e termas da muralha), como privados (Casa dos Repuxos).

A esta muralha, aparentemente feita à pressa, parece faltar o rigor das obras públicas romanas, sendo patente o reaproveitamento de materiais de outras construções, como o anfiteatro.

O mistério da muralha

O aspeto destas defesas e o que se conta sobre elas reforçam a ideia de uma quase barricada erguida à pressa para proteger a cidade dos bárbaros. Mas terá sido rigorosamente assim? Na época do amuralhamento, ou seja, no início do século IV, não há ameaça de invasão da Península

Porquê, então, a construção tão prematura de uma muralha, ainda por cima à custa de elementos centrais da cultura romana, a começar pelo anfiteatro? Será que a cristianização da sociedade hispanoromana (de que é testemunho a basílica paleocristã que encontramos nas Ruínas) implicou a rejeição de símbolos da Roma pagã, como o anfiteatro?

Será que a centralização orçamental imposta pelo imperador Teodósio, ao proibir os patrícios ricos de patrocinarem festas públicas, levou à perda de importância do anfiteatro? Ou será que, com a decadência do comércio no Império e da economia centralizada, se gerou um pré-feudalismo, com as cidades a passarem a viver do domínio do território envolvente? Nesse caso, as muralhas de Conimbriga teriam começado por ser a afirmação simbólica desse novo poder local.

Os tempos da decadência

Narram as crónicas que, apesar da muralha, a cidade terá sido saqueada pelos Suevos em 465 e 468, tendo, nesta segunda vez, sido morto o nobre Cantaber (adiante se falará das ruínas da sua casa) e vendida a sua família como escrava. Nessa altura, já Conimbriga tinha um bispo cristão.

A cidade foi decaindo. Mas, mesmo assim, ainda sobreviveu por mais de cem anos. De resto, os historiadores costumam sublinhar que, apesar dos mitos sobre o seu ardor guerreiro, os chamados bárbaros tinham, muitas vezes, mais vontade de assentar arraiais com a família do que de combater desnecessariamente.
Importa ainda considerar que, descontados à exceção dos casos de ataques-surpresa ou de traição, tomar de assalto uma cidade fortificada exigiria efetivos, tempo e máquinas de cerco que estes povos não possuíam.

Só em 589 a sede da diocese foi transferida cerca de 15 km para norte, para Aeminium, que não tardaria a ficar conhecida como Coimbra.
O facto de a antiga urbe romana ter caído quase no esquecimento e de a zona não ter voltado a ter grandes povoações (Condeixa-a-Velha surgiu na orla setentrional, em parte sobre o antigo anfiteatro e Condeixa-a-Nova desenvolver-se-ia ainda mais para norte) fez com que as suas ruínas ficassem bem conservadas, exceção feita a alguns roubos de pedra aparelhada para novas construções durante o século XIX.

As primeiras escavações

As escavações de Conimbriga iniciaram-se em 1928, tendo começado por ser estudada a área a noroeste do fórum. Em 1936, foi publicada a primeira obra para o grande público por Virgílio Correia que dirigira as primeiras campanhas arqueológicas.

Em 1939 era posta a descoberto a Casa dos Repuxos, bem como outras construções da zona extramuros. Em 1964, iniciou-se a grande campanha de escavações sob a direção de Bairrão Oleiro, Robert Étienne e Jorge de Alarcão, seguida da construção do Museu.
Para fazer a visita há vários itinerários possíveis, mas eis o que lhe sugerimos: passada a porta onde lhe verificam o bilhete, siga para sul por um caminho lajeado que evoca a estrada imperial de Olisipo (Lisboa) para Bracara Augusta (Braga).

Embora aviste quase em frente a famosa Casa dos Repuxos, deixe-a para o final da visita. Veja os vestígios de um edifício comercial com lojas e armazéns nas caves, depois destruído por ocasião da construção da muralha baixo-imperial. Prossiga, no exterior da muralha, admirando aquelas que foram duas casas nobres de habitação: a Casa da Cruz Suástica e a Casa dos Esqueletos.

Duas casas a não perder

Na primeira casa são notáveis os mosaicos coloridos do século III, tendo como um dos elementos decorativos principais a cruz suástica, com sentido de rotação oposto à recriada pelos nazis e correspondendo a um símbolo solar de boa sorte.
A segunda casa espelha, através da sua planta, uma extraordinária fidelidade aos cânones construtivos romanos. O nome resulta da circunstância de, na fase tardo-imperial, ter aqui existido uma necrópole.

O último ponto de interesse extramuros são as Termas da Muralha, do século I, abandonadas quando a cidade recolheu para o novo perímetro defensivo.
Passando para a zona intramuros e após as ruínas da basílica paleocristã (contemporânea da muralha baixo-imperial) veja a Casa de Cantaber, talvez a maior casa nobre de Conimbriga, com 80 m de comprimento por 40 de largura.

As Termas do Sul, o Fórum (grande centro cívico e principal espaço público da cidade, alvo de recente requalificação e consolidação) e o aqueduto (que vinha de Alcabideque a 3 km daqui, parcialmente em traçado subterrâneo) são as grandes atrações do espaço intramuros.

Repuxos cruzados

Contornada a muralha pelo lado oeste, termine a visita com chave de ouro, apreciando a monumental Casa dos Repuxos. Era uma moradia do século II, cujos mosaicos cobriam uma área de 600 metros quadrados. A justificação para o nome decorre dos jogos cruzados de cinco centenas de repuxos que rodeiam o lago do pátio (peristilo) central e cujo sistema hidráulico foi refeito segundo o esquema original.

Introduza uma moeda na ranhura e verá todo o conjunto a funcionar durante uns largos segundos. Acredite que, sobretudo num dia de calor, a sensação é inesquecível.
Feito o circuito, pode sempre passar pelo restaurante do Museu e gozar a calma da agradável esplanada virada para o canhão do Rio dos Mouros.

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