EXPERIÊNCIA #74 – Bugiada

Um São João especial

Uma festa popular que é uma explosão de cor e de alegria, encenando de forma original e divertida a luta eterna entre o bem e o mal.

É uma das mais curiosas e animadas festas populares portuguesas que apenas tem de comum com o São João portuense a coincidência da data de realização. É um auto popular, encenado ao ar livre e levado a cabo por muitas dezenas de figurantes em Sobrado, nos arredores de Valongo.
Tal como noutras festividades de raiz popular, o tema central é a luta entre o Bem e o Mal, situando-se a acção num tempo distante, quando cristãos e mouros disputavam a posse das terras onde agora vivemos. O que torna esta festa especial é a forma irónica como os dois campos são representados. Os maus apresentam-se, organizados, bem vestidos e limpos – são os Mouriscos. Já os bons são barulhentos, sujos e desorganizados – trata-se dos Bugios, assimilados aos cristãos.
Depois, é um festival de danças e correrias para recuperar aos Mouriscos a imagem do São João e o chefe cristão, demanda levada a cabo com a ajuda providencial de um dragão. Um verdadeiro dia de festa, entre milhares de pessoas, às portas da cidade do Porto e uma forma diferente de viver o São João.

CURIOSIDADES

Mourisco não é qualquer um – Todo o folião que arranje uma máscara e roupas coloridas pode candidatar-se a Bugio. É-lhe permitido, para além do auto propriamente dito, correr e divertir-se à vontade no meio da multidão, para além da «cobrança dos direitos» aos comerciantes, comendo e bebendo por conta. Já o papel de Mourisco só pode, pelo menos tradicionalmente, ser desempenhado por rapazes solteiros, para quem esta figuração representava a entrada na idade adulta. No fundo, um rito de passagem também celebrado pelos Caretos transmontanos.

Festa para todo o dia – A animação dura o dia inteiro e prolonga-se para além do combate ritual entre os dois campos. O assalto final ao reduto dos Mouriscos é assinalado pelo soltar do fogo-de-artifício e pelo ribombar de incontáveis morteiros. Mas, mesmo derrotados, os Mouriscos reorganizam-se para executar a dança final em honra do padroeiro.

Festas originais – A riqueza etnográfica desta festa não é um caso isolado. Em Monção, por ocasião do feriado do Corpo de Deus, a Festa da Coca tem, também, como tema a luta entre o Bem e o Mal, personificados neste caso por um São Jorge, que monta um cavalo branco, e por um dragão com rodas, pintado de cores garridas e ao qual não faltam os brincos de ouro nas orelhas (a Coca, acompanhada de outra mais pequena), movimentado por um grupo de homens. No Carnaval de Lazarim (Lamego) o que está em causa é outra luta eterna, a que opõe (?) homens e mulheres, à mistura com alguma crítica social. As máscaras de madeira, são notáveis. Finalmente, os Caretos transmontanos (Natal e passagem do ano) correspondem à assimilação dos jovens solteiros, prestes a entrar na idade adulta, a diabretes a quem, transitoriamente, tudo é permitido.


INFORMAÇÕES

Sobrado situa-se poucos quilómetros a norte de Valongo, sendo acessível a partir daqui, pela EN209, direcção Lourosa e Paços de Ferreira. Até Valongo há boas ligações ferroviárias (Linha do Douro), sendo a cidade servida por um nó da auto-estrada A4 (Porto-Amarnte).
Posto de Turismo de Valongo
Tel. 22 422 79 00

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