EXPERIÊNCIA #95 - Caldo Verde

Consolo da alma lusa

Uma sopa de couve galega, cortada muito fina, regada com um fio de azeite e completada por rodelas de chouriço, sem esquecer as fatias de broa.

Quando se viaja de comboio de Lisboa para o Porto, uma das coisas em que, inevitavelmente, se repara é que não parece haver casa que não tenha horta, nem horta onde não haja couves. Extrapolando, será de admitir que não haverá mesa onde não se coma caldo verde, pois a base desta popular sopa está bem à vista: a couve galega. Cortada em fatias finas e posta a cozer, dá o resultado bem conhecido: um caldo da cor da matéria-prima, a que um fio de azeite e umas rodelas de chouriço dão a consistência ideal. Juntem-se umas fatias de broa e está pronto a servir.
Sendo um prato caseiro, é, também, uma comida de festa. É o que se serve, bem cedo, nas grandes feiras, como as de Espinho ou de Barcelos, a quem por ali anda a montar a tenda ou a fazer as compras. Mas é, também, o prato das romarias minhotas, noite fora, quando o frio começa a descer. O consolo de caçadores e pescadores fora de horas. Ou o que mais facilmente se encontra num daqueles tascos de beira de estrada, abertos toda a noite, refúgios de noctívagos, camonistas e viajantes diversos.

CURIOSIDADES

Minhota? – Os entendidos divergem quanto à origem do caldo verde, muito embora o senso comum a associe ao norte de Portugal, designadamente ao Minho. Mas, hoje em dia, encontra-se por todo o país. Onde houver festa, das romarias minhotas aos santos populares lisboetas, lá está ela, muitas vezes na companhia da sardinha assada, das castanhas ou dos enchidos.

Saudável – Qualquer nutricionista dissertará sobre a importância da sopa e do caldo verde em particular. É rico em vitaminas e minerais. Tem fibras, essenciais para o bom funcionamento do aparelho digestivo, para além de antioxidantes que ajudam a inibir alguns dos mecanismos desencadeadores do cancro. A água da cozedura preserva os nutrientes dos legumes que, de outra forma, se perderiam. Do ponto de vista calórico, um prato de sopa, mesmo com azeite, dificilmente passa as 180 calorias, contra as 500 ou 600 doutro tipo de refeições.

Ditos – O senso comum antecipou e fixou o saber actual dos nutricionistas. «Se a velho quiseres chegar muita sopa terás que manducar» ou «velho e criança, da sopa farão usança». Ou esta outra: «se queres saúde, come sopa, o melhor que levas à boca». Um pouco fora desta linha de pensamento, a expressão «dar sopa», sinónima de dar nega ou rejeitar alguém ou alguma coisa.

Concorrência – A par do caldo verde, outras sopas populares merecem uma referência especial. Além da açorda alentejana e da sopa da pedra, referidas neste capítulo, retenham-se, ainda, a canja, a sopa do cozido à portuguesa, ou as sopas de peixe, para além do transmontano caldo de castanhas ou da sopa servida nos Açores por ocasião das Festas do Espírito Santo.

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