EXPERIÊNCIA #93 - Francesinha

O segredo está no molho

É muito mais que uma sanduíche. Leva linguiça, salsicha fresca, fiambre, carnes frias e bife de vaca, tudo coberto com queijo derretido e um molho à base de tomate, cerveja e piri-piri. No topo, pode «aterrar» um ovo estrelado.

É um pouco a história da sopa da pedra, em versão portuense. A francesinha é uma tosta de queijo e carne, não muito diferente de qualquer outra que se faz por esse mundo fora. O que a torna diferente, apetitosa e verdadeiramente portuense é o molho. O resto faz a figura da pedra na sopa ribatejana: está lá mas é só para justificar o nome...
Mais substancial que um prego, tanto pode ser a substância de uma refeição normal (acompanhada, eventualmente, por batatas fritas), como ser alternativa para uma ceia. Num caso ou noutro, exige rega à altura. Cerveja, tirada à pressão, quando não vinho verde servido pelo mesmo processo, que começa a ganhar o seu lugar nos balcões das cervejarias da Cidade Invicta, para além de uma hipotética sangria.
Tal como a pizza e as massas se espalharam de Itália para, praticamente, todo o mundo, a Francesinha começa a progredir para sul, já se encontrando na ementa de algumas cervejarias lisboetas, sinal de que a capital é grande e não sectária, gastronómica ou desportivamente falando.

CURIOSIDADES

Origens – Com este nome, até há quem faça remontar a origem do prato às invasões francesa, dado o hábito de os soldados de Napoleão empilharem em sandes todo o conduto que apanhavam à mão. Molho? Só em sentido figurado, quando se encontravam com os guerrilheiros ou os soldados portugueses... Menos fantasiosa e mais bem documentada é a história que associa a Francesinha a uma versão importada da tosta francesa conhecida como «Croque Monsieur» e enriquecida com o molho de tomate, cerveja e piri-piri.

Porto e Póvoa de Varzim – Se o restaurante e cervejaria «Regaleira», em pleno centro do Porto está intimamente ligado, senão à origem da Francesinha, pelo menos, à sua popularização, a Póvoa de Varzim também desenvolveu, a partir dos anos 60, alguma tradição francesística, associada à antiga e conhecida casa «Guarda-Sol».

Confraria – Se os enólogos, os gastrónomos e outros sábios se agrupam em confrarias, porque não hão-de os incondicionais da Francesinha fazer o mesmo? Reunindo, entre outros fundadores, o escritor Hélder Pacheco e o actor Óscar Branco, nasceu, no início da década, a Confraria da Francesinha. Tem como objectivo zelar pela qualidade e autenticidade deste prato, cada vez mais divulgado fora da sua zona de origem e sujeito a leituras revisonistas, responsáveis por criações tão insólitas como francesinhas de cogumelos, galinha, bacalhau, ou atum, para não falar nas vegetarianas. Só falta uma versão politicamente correcta, apenas servida em balcões onde não se beba mais que a conta, nem se pronunciem substantivos integrantes do colorido vocabulário portuense.

INFORMAÇÕES

Com toda a subjectividade que estas escolhas sempre têm sugerem-se, para provar francesinhas, além das duas casas já referidas, a Cervejaria Gambamar, na Rua de Campo Elegre ou, numa versão mais popular, do outro lado da mesma rua, a cervejaria «Capa Negra». Ambas no Porto, como convém.

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