EXPERIÊNCIA #91 - Sopa da Pedra

Alquimia ribatejana

«E a pedra? Essa lavo-a e levo-a comigo porque me pode vir a fazer jeito outra vez...» Fala final do frade na lenda da sopa da pedra

Diz a lenda que os alquimistas medievais ferviam os metais comuns para os transformar em ouro, servindo-se da pedra filosofal. Os cozinheiros ribatejanos fazem melhor: põem a cozer uma pedra comum e produzem uma sopa de se lhe tirar o chapéu.
Escusado será dizer que a pedra é uma mera curiosidade etnográfica. O que lá está dentro é feijão, pedaços de carne e couve, constituindo, por si só, uma retemperadora refeição. Poucos serão os que, tendo comido um bom prato de Sopa da Pedra, têm ânimo para passar ao prato seguinte.
Se a maior parte da doçaria portuguesa tem raízes conventuais, também este prato radica, pelo menos no plano mitológico, na herança do clero regular. A receita, em vez de saída de um convento, é atribuída à esperteza de um frade, provavelmente de uma ordem mendicante, franciscana ou outra, que foi pedindo ao povo alguns ingedientes para condimentar a sopa que estava a fazer, fervendo uma pedra apanhada do caminho.

CURIOSIDADES

Lenda – Conta-se que um frade, que andava às esmolas, não só não recebia uma moeda daqueles que interpelava, como nem via concretizada, a seu favor, a obra de misericórdia que manda dar de comer a quem tem fome. Para espanto geral, pegou numa pedra e pô-la o lume, na panela, dizendo que ia fazer sopa. Desconfiado, o povo foi-se juntando, pois de um homem da Igreja pode sempre esperar-se um milagre, mesmo de pequena dimensão. A um pediu tempero, a outro azeite. Alguém cedeu uma couve. E pela mesma via foram entrando na panela os mais diversos ingredientes. No final, a sopa estava magnífica e o frade até a deu a provar. Quanto à pedra, guardou-a no hábito pois podia voltar a servir. Uma inversão criativa do velho preceito bíblico: bendito seja aquele que atirar a primeira pedra, neste caso para a panela da sopa.

Receita ribatejana – Não é preciso fazer uma viagem à volta de Portugal para chegar à Sopa da Pedra. Entre Coruche, Almeirim e Golegã há dezenas de resturantes a incluir este prato na ementa. Alguns dos mais famosos situam-se em Almeirim mas a escolha é diversificada. A pedra, geralmente um seixo redondo das margems do Tejo, pode ser levada para casa como recordação. Ou, quem sabe, como ponto de partida para outra receita.
Outras sopas – Menos estranhas nos seus ingredientes e menos lendárias na sua génese, não faltam sopas famosas no cardápio popular português. O caldo verde e a açorda alentejana, referidos neste capítulo, para além da sopa de peixe, da sopa do cozido à portuguesa e da canja são algumas delas.


INFORMAÇÕES

Sobre a lenda da Sopa da Pedra
www.cm-almeirim.pt
Na mesma página consulte a lista de restaurantes de Almeirim, sendo o «Toucinho» uma referência a reter:
Rua de Timor
Tel. 243 592 237

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